sábado, 16 de abril de 2011

O erro, preço e a alternativa

Antes que pudesse perceber, a criança se afastara perigosamente para desvendar os limites do lugar. Havia um lago com muitos patinhos, peixes de diversos tamanhos e cores, e cisnes, que eram certamente muito atraentes aos olhos da pequena.

Naquela manhã de domingo, Yasmin acordou bem cedo, por volta das oito da manhã, e foi ao quarto da mãe pedir mamadeira. Laura levantou-se ainda bem na merda por conta da noite anterior, preparou o chocolate com leite da menina e foram as duas pra sua cama, voltar ao sono, mas a pequerrucha não queria mais saber de dormir e só falava em brincar no parque, promessa feita na noite anterior, pra que a criança ficasse com a avó sem chorar e, como todos sabemos, as crianças nunca esquecem uma promessa de diversão. Yasmin tanto falou, que a mãe zangou com ela, que, por sua vez, começou a chorar, muito magoada. Laura amava demais aquela criaturinha linda, razão de seu viver, e percebeu que fora injusta e que sua ressaca não era motivo pra magoar a pobrezinha. E foram ao parque.

Chegando à Quinta da Boa Vista, nos lindos jardins imperiais, a menina tratou logo de tirar as sandálias e sentir a grama úmida sob os pés, ao passo que Laura sofria de um intenso mal estar. Suava frio, tremia um pouco, estava muito enjoada e com o cérebro solto dentro da cabeça, doendo muito, mas, apesar de tudo, satisfeita pela felicidade da filha, que gritava: - Duvido você me pegar, mamãe! - Enquanto saía correndo toda desengonçadinha e linda, de modo que a mãe não resistia e brincava o quanto podia, até que Yasmin resolveu parar um pouco pra descansar, já no comecinho da tarde, e caíram as duas em uma sonequinha boa, esticadas sobre a canga no gramado fofinho, até que, exatamente às 15h 52 min, Laura acordou por conta de um certo alarde de algumas pessoas à beira do lago, percebendo simultaneamente que Yasmin não estava ao seu lado. Instinto materno, saiu em disparada em direção ao grupo.

Sua princesinha Havia acordado momentos antes e foi brincar perto do lago, onde assustou-se com um pato que surgira perto de si, caindo no lago. A garota estava estendida no gramado, com seus labiozinhos azulados e a respiração cessada. O resto é sofrimento.

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(Com muita peninha de ter matado a pobre Yasmin, o autor que vos fala decidiu-se por um final alternativo, o qual segue abaixo)

Sua princesinha Havia acordado momentos antes e foi brincar perto do lago, onde um patinho surgiu perto de si. A garota estava estendida no gramado, sem conseguir chorar, desesperada com um patinho nos braços. Segundo o pessoal que a cercava, Yasmin provavelmente pensou tratar-se de um brinquedinho e arrancou a cabeça da avezinha. Laura, por sua vez, não pôde conter o alívio que sentira e caiu em prantos, abraçada à filha, confortando sua cabecinha atrordoada.

FIM!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A ironia da evolução

Era a pessoa mais sábia do lugarejo. É bem verdade que isso não significa muita coisa, pois a localidade é uma espécie de microcosmo da Bruzundanga de Lima Barreto, mas acontece que a história precisa ter um começo.

Mesmo os mais céticos, em algum momento, recorrem, recorreram ou recorrerão à ela pois, no desespero, a gente apela pra qualquer coisa; o ateu reza, o evangélico vai na benzedeira, ou então procuramos a pessoa mais sábia da aldeia, como faziam nossos antepassados indígenas, e como fazem os habitantes deste curioso povoado, que parecem não ter se decidido entre o passado e o futuro, adorando o Deus-Tecnologia ao mesmo tempo em que praticam simpatias e outros tipos de crendices sem qualquer comprovação científica.

Dia desses, uma nordestina assanhada que atendia pelo nome de Francinete e mudou-se pra lá para viver com seu marido, recorreu à luz da guru (que aconselhava os que a procuravam sobre os mais diversos assuntos, cobrando apenas uma bala de morango), pois começara a perceber ou imaginar um certo desinteresse por parte do esposo, o qual não dava um trato na boneca havia alguns dias. Pois bem, após desabafar seus medos e dúvidas, obteve a resposta: "que tal você fazer um chá beeeeeem gostoso?" Francinete sorriu e julgou ter compreendido a mensagem. Agradeceu em êxtase e, já na rua, pôs-se a pensar: "vô dar um chá de buceta em Everaldo que o pau dele nunca mais vai descer".

Um outro senhor endividou-se com um agiota, o que lhe gerou ameaças contra sua integridade física e de sua família; desesperado, procurou pela sábia guru contando seu dissabor, recebendo como conselho que "é legal dar um pulo bem grandão!". Entre lágrimas, o velho concluiu que a honra de seu nome e a segurança de sua família eram o que possuía de mais valioso e atirou-se da varanda do apartamento onde passara toda a sua vida conjugal ao lado da esposa, que também já se havia aconselhado acerca de uma proposta de emprego.

Chamavam-na Sinhazinha, e hoje, conforme fiquei sabendo, ninguém mais a procura, coisa que não afetou sua vida em absoluto. Sinhazinha atende pelo nome de Vitoria e é uma pessoa que de fato carrega consigo todos os atributos que seu nome pressupõe: é saudável, forte de corpo e mente, determinada, astuta, carismática, bondosa sem ser otária e linda.

Fico devendo o nome e o modo como iniciei minha conversa com o camarada que me contou essa história, o que, de qualquer forma, seria informação desnecessária, pois todos sabemos que no bar as amizades são tão fáceis quanto efêmeras. Posso é dizer como fiquei curioso por saber o motivo pelo qual deixaram de procurá-la, trocando esta sensação pelas de surpresa, deslumbramento e tristeza misturadas ao receber a resposta:

- Sinhazinha tinha 3 anos. Conforme foi crescendo, tornou-se ignorante como outro qualquer.