quinta-feira, 26 de maio de 2011

Eu sou melhor que um cão

Um cão passa ao meu lado

Uma multidão passa por mim
Um fudido fica pra trás

Tocando muito mal em uma sanfona ,algo que lembra vagamente
“Asa Branca”
E havia um pequeno pote diante dele com duas ou três moedas
apenas.

Ele certamente desistiu da vida. Só pode ser.

Ela sofre de gastrite por causa da pressão que sofre no emprego
De segunda a sábado.
Ela sempre foi muito responsável e disciplinada. Ela vive para o trabalho.

O que a está deixando doente

Parece ter desistido da vida.

Ele é um grande intelectual
Desistiu da vida
Ele é afundou-se no álcool
Desistiu da vida

E cada um tem uma balança
Onde desequilibra cada qual sua existência
e acho que os cães não têm do que desistir

...

De repente ele se levantava durante a madrugada e caminhava pela casa. Normal. A diferença é que agora ele acordava a todos, fazendo muito barulho, batendo de cabeça em paredes e móveis, desorientado, caindo no chão como quem tropeça e, desta forma, teve seu fim em um leito e uma pressão desgraçada de um tumor em seu cérebro, que o fazia passar horas a fio gritando de dor.

Assim morreu meu cachorro. O assunto ficou mais leve, não?

E acho que os cães não têm muito do que se arrepender
E não sei no que sou melhor do que um cão.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Gozação, chacota, zombaria, sacanagem...

Empunhou a velha carabina que herdara de seu pai , fechou a porta atrás de si e montou em sua moto, sabendo que deixava para trás mais do que meros problemas infanto-juvenis. Finalmente ele se reconhecia como um homem, sentindo o peso de séculos de masculinidade, poder e respeito que aquele objeto representava. Não havia mais preocupação em ser alvo da crueldade dos outros garotos ou do desprezo das meninas, pois ele era homem. Um homem maduro e armado.

Muito magro, educado e tímido, transmitia uma delicadeza tal que rapidamente tornou-se alvo das brincadeiras cruéis da garotada, mesmo das garotas, que também adoravam chamá-lo de “bambi”. As meninas geralmente são amigas de homossexuais, mas nem essa simpatia, embora não fosse viado, ele conseguia conquistar, de modo que fazia de tudo pra não ter o desprazer de enfrentar mais um dia naquele lugar estúpido, onde todos buscavam e admiravam um padrão de comportamento e beleza imposto sabe-se lá por quem. Importavam-se com valores superficiais, egoístas e mesquinhos, desprezando uma pessoa fantástica por conta de uma aparência afeminada. Esses merdas metidos a machões e essas piranhas sem valor um dia teriam o que mereciam e ele sabia disso, ansiava por isso, mas enquanto esse dia não chegava, se acabava na punheta pensando nas putinhas da escola. E chorava muito também.
Na maioria das vezes, quando a coisa não está boa, sempre acaba piorando. Por algum motivo, que ele não soube explicar mas pôs na conta de Deus, um pelo inflamou em sua bunda. Os outros caras, fortes e extrovertidos, nunca tiveram esse tipo de “doença” idiota, pensava enquanto ia obrigado pra aula. O fato é que não dava pra andar direito e, nem bem chegou na escola, um filho de uma puta lá longe já começou a sacanear, apontando o dedo de forma espalhafatosa em sua direção: “IÁÁÁÁ! Olha como ele tá andando. Deu muito essa bundinha ontem é, seu ARROMBADO?” e a garotada toda começou a rir e sacanear o moleque, que foi ficando puto da vida, até que ameaçou a todos, tomado pela raiva: “VÃO SE FUDER SEUS MERDAS. EU ODEIO VOCÊS. EU VOU MATAR VOCÊS” , enquanto a galera gritava coisas como arrombado, viadinho, safada, piranhuda...e o desgraçado nem podia sair correndo de lá por causa da bunda inflamada.

Mas isso foi lá no início do ensino fundamental.

Conforme aproximava-se da antiga escola, a lembrança do ódio que sentira descarregava adrenalina por todo o seu corpo, que queimava e suava em um delírio de vingança. Parou por um instante diante da entrada, ofegante, observando os alunos que chegavam pra mais um dia de pressão, em que cada um deveria parecer confiante, extrovertido, feliz, bem-sucedido agora e na vida. Lembrou-se dos cadernos de perguntas, onde sempre havia uma do tipo “que animal você é?”, cuja resposta de todos era geralmente, leão, tigre ou águia, enquanto ele só conseguia ouvir em sua cabeça as vozes dizendo “bambibambifrouxoviadoviadinhobambiarrombadoflorzinha”. De qualquer foma, o caderno geralmente nem chegava em suas mãos. Pensou nisso tudo e pensou em como o sistema educacional brasileiro é falho, como desestimula o mais estimulado professor que, por conseguinte, desestimula os alunos que, por sua vez, estão mais preocupados em mostrar o que a sociedade de um modo geral gostaria que fossem: cidadãos competitivos e maus. Então respirou fundo, olhou para a bolsa onde estava a arma e deu a partida em sua motocicleta, seguindo rumo à região dos lagos, onde o esperavam para caçar em um grande assentamento de sem-terras e pensou que agora era a vez de outras crianças passarem por tudo isso, desejando sorte a todas, afinal, ele passou e hoje goza de boa vida no que diz respeito a si mesmo. Basta dizer que não carrega grandes traumas.

Em tempos de guerra contra o que agora chamam de Bullying mas que não passa da boa e velha , gozação, chacota, zombaria, sacanagem, zoação, troça ou qualquer outro nome que se queira dar, é bom lembrar que somos historicamente cruéis. Alguns sobrevivem, outros não. E ponto.

sábado, 14 de maio de 2011

Falácia

Dizem
que o trabalho dignifica
o homem
Dizem
que aqui se faz e aqui
se paga
e que não se cospe no prato
onde se come

Dizem
que a beleza está nos olhos
de quem vê
Dizem
que a justiça tarda mas
não falha
e que com saúde e paz é fácil
viver

mas esqueceram da sorte
se talvez a sorte existir

e de outras variáveis
muito apreciadas pela raça
Falo
de grana
e mau caratismo
Falo de Judas, Caim,
Hitler
e Idi Amin
Falo de ignorância
estupidez, radicalismo
e arrogância

EU TÔ FALANDO É DESSA PUTARIA TODA

sem jamais
descartar a esperança



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