quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Inconvergente

Faculdades mentais alteradas
Não sei se lembro sei que esqueço
Há sempre um rosto atrás do espelho
Não conheço o meu

Não conheço o meu

Não conheço o meu impulso pra nada
As manchetes entre as quais desapareço
Apressado em pensar em coisas vagas

Não conheço o seu

Não entendo o seu fetiche por respostas
suas apostas em causas perdidas
Nunca li o manual que te explica
Não pretendo o seu

Não pretendo o seu

Não pretendo o seu sorriso ou simpatia
Me alegro do desdém que nada compra
Você não sabe o que procuro
porque você já sabe tudo
Não percebo o nosso

Não percebo o nosso

Não percebo o nosso ar superior
Ou se percebo ignoro
O nosso "Pai" pariu um homem morto

Não carrego a sua cruz...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O acaso e outro caso

Dia desses, andando pelo Largo da Carioca, um sujeito gritou no meu ouvido de repente: "Jesus Cristo é o senhor!" Olhei pra ele com ar preocupado, respondi que eu não era nada e o aconselhei, não tão educadamente, que fosse fuder a vida de outro. Aqueles três velhinhos não fizeram isso com aquele moleque pobre lá na manjedoura? Chamaram-no de Jesus, nem esperaram que ele pudesse responder por si e deu no que deu, o garoto entrou na porrada e foi crucificado. Mas comigo não!

Falando nisso, lembrei de uma história linda sobre destino, coisa na qual nunca acreditei - como aliás não acredito em muitas coisas - mas aconteceu com pessoas muito próximas a mim, um homem e uma mulher a quem chamarei por Norato e Maria Rita, respectivamente, para que sua privacidade permaneça. Pois bem, acontece que eu saía muito com os dois, embora nunca houvesse coincidido de sairmos os três juntos, e falo de muito tempo, de anos. Também nunca lembrei de comentar sobre um com o outro e nunca pensei que, caminhos cruzados, alguma coisa pudesse haver entre os dois, até porque Maria era mais corujona, gostava da noite e de boates, enquanto Noratão era mais de acordar cedo, curtir uma feijoada, um churrasco, uma cervejinha à luz do sol e longe da clausura dessas boates.

Certa vez, totalmente por acaso, combinei alguma coisa que já não lembro o que era, na qual os dois finalmente se encontrariam. Ocorreu que por igual acaso o encontro fora adiado, pois Maria ficara de cama por conta de alguma virose ou uma grande ressaca. Perdoem minha memória falha, acontece que além de outros motivos, não sou do tipo "narrador onisciente", embora o pareça. Vale a pena observar que Mariazinha era possuidora de seios antigravitacionais, que venciam com bravura a lei da gravidade. Não eram grandes, antes de mais nada, eram seios bravos, que apontavam pra cima com delicadeza e determinação. Fosse um poeta, eu diria que almejavam transcender o corpo e alcançar a graça divina...mas retomemos a bela narrativa que pretendo concluir.

A verdade é que toda história com final feliz deve ter um dedo do destino, do acaso, as pessoas gostam de acreditar que existem essas coisas, quase sempre pra tirar um pouco do peso de alguma merda de responsabilidade delas. Neste caso é diferente: eles nunca tomaram conhecimento um do outro. Mas posso dizer, pro relato não perder o charme, que ambos foram muito felizes nos bons momentos da vida e sofreram nos ruins. Maria Rita acabou casando e vai morrer. Norato já morreu, acidentado. Alguns dizem que é o destino, outros, que a vida tem dessas coisas.

...

eu não falo nada.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O amor ( a velha história )

Eu quase morri de rir
quando percebi
que fracassara novamente

Eu quase toquei o céu
Eu quase toquei o céu
quando tentei tocar o céu

Às vezes acho que sim
Às vezes acho que não
e
outras vezes eu não sei
outras vezes
eu não sei

A velha história

Nunca estivemos tão certos das nossas dúvidas
É nisso que gostaríamos de acreditar
Pouco sei sobre o que esqueci, é verdade
como se fossem lembranças ruins
como segredos secretos demais.

Tampouco sabemos sobre os nossos futuros gestos

Nem sempre os planos são infalíveis.
Quase nunca são.
Sei que o que pesa nos meus gestos é você
e é tão leve que quase não posso suportar...teu ser
tão aéreo,
teus gestos de uma tonelada sobre mim.

Já não sei onde piso
Já não sei se flutuo
Já não quero discutir se estamos vivos
ou não

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A reconquista: portas abertas.

- Sai daqui agora.
- Por favor, não faz isso comigo! Juro que nunca mais vai acontecer.
- Você é nojenta. Sai daqui.
- Não! Não! Isso não vai se repetir, meu bem, eu juro! Não me mande embora!

De nada adiantava, ele permanecia impassível, olhando para algum ponto fixo no chão, a porta aberta          enquanto a mulher choramingava, implorava um perdão que não parecia possível, tanto mais levando em conta que as coisas não andavam bem havia algum tempo. Há tempos que um não via o outro sem que acontecesse uma indiferença recíproca, embora ele soubesse ainda existir amor. Um amor não mais arrebatador, é verdade. Onde estaria então? Estamos há tanto tempo juntos, pensava. Será que todo esse tempo foi desperdiçado? Não. Sabia que era apenas uma questão de se esforçar um pouco mais - como nos velhos tempos.

Naquela manhã acordou amando-a e enquanto a observava dormir, sorria babacamente. Vestiu seu uniforme e saiu pra trabalhar, não sem antes pousar um demorado beijo na testa da bela adormecida e refletir que desde quando decidiram morar juntos a coisa começou a dar errado e pensou ainda que todos os dias são bons até o inevitável momento de levantar; depois disso é um gotejar de horas, minutos e segundos e formalidades e obrigações a serem cumpridas. Compridas. 
- Tem gente que diz que o mundo não tem nada pra oferecer, mas eu comparo o mundo com um bolo. Um bolo cheio de cobertura e confeitos, mas quando você corta, só tem terra, é pura ilusão, irmãos! Mas EU SEI, senhores, EU SEI, que Jesus tem um pão fresquinho pra oferecer a vocês e sei que TODOS VOCÊS estão comendo esse pão agora, passando uma manteiga do céu...

Lembrou-se desta pregação que ouvira certa vez em um trem lotado, como agora. Que bom que proibiram essa merda. Teve vontade de rir e de desmaiar, mas a vontade de amar o havia tomado por completo.

Naquela noite, recusou todos os convites a bares e puteiros que tanto adorava saindo do trabalho direto pro bar do Alvarenga, cheio de dentes à mostra. Pediu uma cerveja escura, uma dose de catuaba, dois ovos cozidos e um pacote de amendoim. Tomou tudo entre piadas da turma do bar, os olhos bem abertos como se estivesse louco e foi embora sem maiores delongas "como nos velhos tempos". Pegou o Santa Cruz direto pra Central que, pelo horário, já estava vazio, de modo que pôde escolher um lugar ao acaso e sentar-se pensando que estava com sorte, pois o trem não só tinha ar refrigerado, como estava funcionando. Sacou um volume do Trópico de Câncer pra se distrair, mas sua cabeça já estava dentro de casa. Não percebeu a voz anunciando que aquele trem não faria parada na estação de São Francisco Xavier, e quando deu por si já estava em São Cristóvão. Fosse outro momento, teria resmungado e carregado um estado de tensão até o dia seguinte, mas não hoje. Desceu em São Cristóvão mesmo e esperou o próximo trem na direção oposta.

Ao entrar em casa, sorrateiro qual ladrão, surpreendeu a mulher de pé na cozinha, mastigando alguma coisa, de costas pra ele e fez um barullhinho com a chave só pra ela não se assustar demais. Abraçou-a por trás, com o pau levemente teso, mordiscou-lhe a nuca do jeito que ela gostava. Ainda um pouco surpresa, a mulher ofereceu o rosto, que foi prontamente beijado. Sentiu o pênis se avolumando pressionado contra seu corpo e as mãos afastando com delicadeza suas pernas e massageando sua buceta por cima da calcinha velha que usava. Deixou escapar um gemido baixinho. Ele então afastou a calcinha toda babada  de tesão com o dedo indicador ao mesmo tempo que introduzia o médio. Fizeram amor ali mesmo mas foram continuar no quarto.

As coisas não podiam estar melhores, pensava no instante em que a mulher, empolgada com tudo isso, decidiu ousar, pedindo, transtornada e tresloucada: Come meu cu. O cara se emocionou. Mesmo após tanto tempo juntos, após várias tentativas, ela jamais cedera a tal capricho e agora estava lá, repetindo o pedido: vai, come meu, come. Refeito desta surpresa, incrivelmente excitado, introduziu lentamente a cabeça do pau no cu da mulher; ela gemia alto AI AI AAAAI...e ele pensava que a estava machucando e parava, ao passo que ela pedia METE NÃO PARA METE e ele metia no buraco apertado de forma cada vez mais cadenciada até que começou a sentir um forte cheiro de merda. Sua reação ao ver o pau todo cagado foi, logo após a ânsia de vômito, jogar a mulher pra fora da cama com um tapa acompanhado de um sonoro PORRA! Ela tentou dizer alguma coisa, sentada no chão, mas tomou um chute na lateral da coxa SAIDAMINHAFRENTECARALHO 

Ele olhou pro lençol sujo e foi lavar-se. Voltou pra sala abrindo a porta e fez a mulher sair toda cagada.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Conto de fodas

Leonardo nasceu fudido,
por um rabo de saia se fudeu Bentinho
e por caminho semelhante
o jovem Sorel se fudeu por amor e olho-grande

Dom Quixote se fudeu já velho
Emma Bovary fudeu de tédio
por culpa do acaso quem se fudeu foi Édipo

Romeu se fudeu na juventude
Mersault também - por seu desbunde-
Jack Barnes se fudeu durante a guerra
Henry Chinasky só se fode e não se conserta

Isto é uma obra de ficção.

mas

qualquer semelhança com a realidade
corresponde de fato a uma possibilidade,
um pouco da vida é isso:

Todos nos fudemos cedo ou tarde.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Nós

Eu tenho força e tenho sangue
e ninguém sabe se é de barata
e nem eu sei

E não sabemos pra onde vamos,
se estamos indo ou então voltando
ou se paramos

Por enquanto eu não sei
mas por enquanto eu não sei
esquece então

Cuspe pro alto, o mar tá bravo,
tiro no pé é onde estamos.
Se o tempo corre e o corpo morre
a gente esquece e às vezes reza
e às vezes sobe
e às vezes

desce

mas por enquanto eu não sei
então esquece

e não sabemos pra onde vamos
porque seguimos, porque morremos
todos iguais

e se tivéssemos qualquer certeza
ainda assim nós estaríamos
insatisfeitos

e por enquanto eu não sei
por enquanto eu não sei
eu não, eu não

e sempre é pouco, pra gente é pouco
Sempre doentes e sempre loucos
pra melhorar

e há sempre olhos a nos olhar
e há sempre regras - e é bom segui-las -
Tomar um banho.

Tomar um banho pra trabalhar
ficar cheiroso, ficar feliz
o pescoço por um triz

mas por enquanto eu só sei
que eu não sei

por enquanto eu só sei
o que eu não sei.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lindas


Sempre tive vontade de ver alguém queimando vivo, mais pra descobrir o som da pele toda estalando do que qualquer outra coisa. Aliás, será que esse som é mais alto que o dos gritos? Quanto tempo demora pra cessarem os gritos e ficar apenas o crepitar, creio eu, gostoso da pele? Imagino um enorme bacon. Imagino também que haja um momento-limite da dor onde a pessoa se caga e se mija toda, quando perde o controle sobre si mesma sem estar, no entanto, inconsciente; quase como num orgasmo, onde, em um primeiro momento a gente se retesa todo pra relaxar no momento imediatamente seguinte. Foda é cheiro de cabelo queimado. Ruim demais.

O fogo sempre exerceu grande fascínio não apenas sobre mim, mas sobre a humanidade como um todo. Descoberto, a príncipio, com temor e depois como uma forma de proteger-se do frio e dos animais selvagens pelos nossos antepassados -- mas eles eram ainda pouco desenvolvidos encefalicamente -- até que algum tempo mais tarde, lá pra 1022, o pessoal da igreja começou a associar ao fogo o poder de purificação, de acordo com seus interesses, claro, mas o que defendo é o poder fascinante da chama serpenteando, consumindo a matéria, de modo que alguns hereges eram queimados vivos em fogueiras de madeira verde, para que o sofrimento se prolongasse, e por conseguinte, o prazer do público e dos inquisidores. Certa vez tive a oportunidade de ler sobre um aparelho de tortura chamado a roda de despedaçamento, cujo uso se deu na Inglaterra, Holanda e Alemanha entre os anos de 1100 e 1700 e que consistia no seguinte: o réu era amarrado com as costas na parte externa da roda, sob a roda, colocava-se brasas incandescentes; o carrasco, girando lentamente a roda, fazia com que o réu morresse praticamente "assado". Sim, é inegável que existe essa atração, motivo pelo qual minha curiosidade é exatamente sobre pessoas vivas dançando dentro e conforme as chamas, como uma dupla de dançarinos. Mortos não dançam e, além do mais, não sei porque falo tanto com você, a minha efêmera dançarina. HAHAHA, calma...porque arregalou tanto esses olhos?

Pensando na questão do terrível cheiro de pelos queimados, decidi eliminá-los antes. A cabeça, raspei com gilete. A idiota da gorda grunhia feito bicho atrás da fita adesiva em sua boca; ainda não havia entendido que o corte é sem graça e que deveria guardar seus gritos pro momento certo. Raspei então sua cabeça, mas os demais pelos, resolvi arrancar no fogo mesmo, pra ter uma ideia de como seria aquilo. Fiz uma tocha com um toco de madeira envolvido com um pano embebido em querosene e passava perto dela de modo que eliminasse os pelos dos braços e pernas sem que queimasse a carne. Ela se encolhia em vão. Depois tirei sua calcinha e, com a mesma tocha, extingui os pelos da xereca feia dela e imagino que ali deve ter doído, pois ela se debatia toda, mesmo acorrentada à mesa. Já dava a primeira etapa de meu trabalho por encerrada quando, em um momento de rara felicidade, lembrei que faltavam ainda alguns pontos: sobrancelhas, cílios e narinas. Tão evidente! Nesta região a tocha seria um exagero, de modo que aproveitei pra acender um cigarro, segurei seu rosto com firmeza e aproximei a chama do isqueiro. Nos cílios e nas narinas foi quando tive um real momento de proximidade com o que viria; o cheiro das pálpebras queimadas era gostoso. Fiquei um tempo com meu nariz próximo ao seu rosto, inspirando e expirando lentamente ao som abafado de seus gritos realmente desesperados. Ela já se agitava toda, pronta pra dançar.

Peguei um pincel, untei pacientemente todo o seu corpo com querosene umas cinco ou seis vezes e finalmente retirei a mordaça de sua boca. Ela implorava em nome de Jesus, pelo amor de Deus e outras tolices mais que viraram apenas gritos quando me aproximei com a tocha e ateei fogo em seu corpo. Enumerei algumas respostas para algumas de minhas curiosidades: 1- Ela gritava muito. Gritos longos, bestiais, que cessaram mais rapidamente do que imaginei; 2- Seu corpo, curiosamente, como eu previra, serpenteava no ritmo do fogo que a envolvia ou pelo menos assim me pareceu; 3- após seu silêncio, o som da pele estourando era bem parecido com o de um bacon ou uma fatia de presunto na frigideira; 4- Não reparei se ela se cagou ou se mijou e não me perdoo por isso, mas em contrapartida, ela realmente parecia estar tendo um orgasmo. Talvez o maior de sua vida, pois jamais sairia dele; 5- O cheiro era forte porque era muita carne, que aos poucos, conforme eu alimentava o fogo que teimava em querer extinguir-se, virava pouca carne. Aquele bolo de carne enorme transformou-se em uma incrivelmente menor matéria negra e tão sem graça quanto antes.

Ainda hoje revivo aquele dia com a mesma empolgação da descoberta, sorrindo sozinho com minha filha, quando me flagra, me perguntando se estou relembrando algum amor antigo. Sim, minha querida filha...o mais antigo dos amores! Enquanto minha netinha, na flor de sua inocência e descoberta do mundo ao seu redor, tal como fiz um dia, queima uma lagarta e a observa estalar e retorcer. Lindas.

sábado, 23 de outubro de 2010

Homem com H - uma história nem tão moderna


Quando cheguei em casa, papai estava sentado com a expressão muito séria, como só fazia quando jogava porrinha valendo dinheiro. Em seu rosto se esparramava uma fraca luz amarelada da luminária que ficava ao lado da poltrona; parecia cena de filme de mafioso, principalmente quando ele deu um longo trago no cigarro, calmamente soltando a fumaça pelas narinas. Estava até bonito. O velho tinha charme...deve ter comido muita mulher nessa vida. Cumprimentei-o como de costume e então dissipou-se sua aura de bandido elegante, cedendo lugar ao cachaceiro vulgar que era:

- Ouvi boatos de que tu anda dando o cu; me diz que não é verdade. Não tem nada pior pra um pai do que isso. Aceito até que tu seja bandido, mas ficar por aí chupando pau não dá, os caras já tão me sacaneando no bar. Não tenho nada contra, desde que não seja na minha família.

Meu pai se emputecia comigo porque eu levava piranha pra casa, gastava dinheiro com isso, o que também é errado, pois o lar deve ser respeitado. "As putas, na rua", me dizia; está entendendo a diferença? Tudo bem, serei bem claro então pra tu entender essa porra de uma vez por todas:

Se eu souber que tu dá o cu, é bem capaz d'eu querer dar o meu também.





(O quadrinho da série "O pai do ano", que ilustra o post foi retirado do site www.nintendo.com.br)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Discussões essenciais deliberadamente inconcluídas e esvaziadas de importância

- Não foi bem isso que eu quis dizer; não é que as coisas tenham que ser deste ou daquele jeito, e sim que as coisas já são simplesmente, mas posso botar o nome que eu quiser nelas, porque tem nome muito despropositado nesse mundo. Por exemplo, o carro eu chamo de caro porque não tenho grana pra comprar um; guardanapo eu não chamo de nada porque não uso, embora nunca tenha entendido o que seria um napo... bom, não era bem sobre isso que falávamos, né? Mas deixe-me resumir desta forma: as coisas são o que são e ainda assim não têm razão de ser. Tatua essa porra nas tuas costas que tu vai tirar onda.
Falando sério agora, essa coisa de sempre querer respostas e provas acho uma grande besteira, ainda mais se for apenas com palavras, porque elas não dizem nada, é só uma sequência de fonemas traduzidos em morfemas que vão se agrupando pra gente explicar tudo que existe no mundo. Mais ou menos isso, rsrs. Amor não se fala, amor se faz, se expressa, se sente ou não. A vida não se explica,a vida a gente tem, vive, sente, perde. Origem do mundo, origem da vida...besteira! Fé e ciência estão na mesma canoa furada, enganando as pessoas com provas inventadas, só porque não nos conformamos em não ter todas as respostas. Se aproveitam da nossa solidão e arrogância. Eu não faço perguntas nem formulo respostas e não quero que me façam perguntas nem me exijam respostas. Aliás, me diga só uma coisa: sabe quanto tá o jogo? Não, ainda não estou bêbado, se é isso que você está tentando insinuar com essa cara escrota, de débil mental. Nem tá ouvindo o que estou falando né? Tudo bem, tá tudo guardado no vento, nas moléculas de ar. Um dia alguém pensará igual. Na verdade, acho que nesse exato momento alguém pensou a mesma coisa, pois acho que não existe nada original que não seja em comum. Tudo já foi dito ou pensado ontem ou hoje ou amanhã. Tanto faz, se tudo será esquecido em breve, se tudo morrerá de uma forma ou de outra.

Depois de tão longa divagação sobre tantas coisas, ele percebeu que andava em círculos, que já não tinha mais uma linha coerente de raciocínio e resolveu levantar-se e ir ao banheiro, tomando o cuidado de antes desligar a TV; passou água na cara evitando encarar o espelho. Seguiu direto para o quarto, onde seguiu pensando, com as luzes apagadas, resmungando sobre os planos feitos, os sonhos sonhados e um tempo tão curto para se perder em questões essenciais, sejam de ordem universal, social ou íntima. Abandonara todas as crenças, de modo que não sobrou sequer a crença em si mesmo. Amanhã completará 30 anos sabendo que a maioria das pessoas prefere não viver pra esquecer da vida que levam e reclamam mesmo assim...nós somos complicados e estamos todos certos, somos lindos com essa porrada de defeitos, programados pra definhar. Abriu o maior sorriso de sua vida até então antes de cair no sono; guardando e aguardando ainda tanta alegria. 30 anos e um poema que jamais foi escrito, mas que recebi pelas moléculas de ar e agora transcrevo, lembrando que não sou Chico Xavier, não se trata de metafísica porque ele ainda está vivo:

Já tive um, dois três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez anos
Onze, doze, treze
Quatorze, quinze, dezesseis
Dezessete, dezoito, dezenove, vinte e mais um, mais dois, mais três.
Farei vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis...

Farei anos todos os anos
e nunca vou saber até quando

Contarei diaas todos os dias
Contarei meses todos os meses
Contarei anos todos os anos
Mas nunca vou saber até quando

Nunca vou saber até quando.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Reencontro

Tarde de sábado. Ontem à noite fez um frio danado, hoje o tempo está fechado e quente; o álcool escapa por todos os poros enquanto raul caminha do méier até a Marechal Rondon, na altura do Engenho Novo.
Amanda está outro fim de semana em casa, cuidando de sua filha. Engravidara aos 16; Não estava nos planos. Cansada e aflita, mas a criança, apesar de tudo, é linda e amada e vive rabiscando as pardes da casa com giz de cera e perguntando pelo pai.

- Teu pai é um filho-da-puta, meu anjo.
- Filho de quem?
Amanda dá um sorriso e se derrete toda em cima da inocência da criança mais linda do mundo.

Três batidas na porta e ela se levanta pra atender; as mãos que bateram eram as mãos de Raul, os braços também, e os olhos e o rosto...não resta dúvida de que é ele. Depois de tantos anos sem se ver, os dois naturalmente ficam estudando um ao outro, procurando alguma grande diferença, mas os desgraçados continuam os mesmos, só um pouco mais acabados, mas tudo bem, pois, afinal, é disso que se trata a vida, ir se acabando. Enfim, ambos mostram os dentes em sorrisos reais e abrem os braços sentindo um ao outro num abraço de olhos fechados.

-Entra aí.

Dentro da casa, ele fez alguma gracinha bem idiota pra criança e ela riu demais, entretanto, ele deixou-a só e se esparramou no sofá. Raul gosta de crianças, mas fica sem jeito de falar manter-se perto delas porque elas não respondem e pensa por um instante no que será que se pode passar na cabeça de uma porra dessas.

- E então, Amandinha, como vai essa brincadeira?
- Ah, tudo normal, sabe como é né...to cansada de viver na merda. Quer uma cerveja?
- Opa! To com uma sede!
- E você, como vai a vida? E as namoradas?
- Com a vida eu vou porque não tem jeito, mas com as namoradas não vou.
- Ué, e aquela que tava contigo um tempão, que você dizia que queria casar, que era teu grande amor...
- Desisti.
- Desistiu porquê? Cê não devia desistir.
- Papo furado.
- Virou viado não, né?
- Hahaha! Não po!

Raul pediu mais duas cervejas, ela trouxe e começou a falar sobre coisas banais e tristes, do tipo que todo mundo pensa: intelectuais, donas de casa, publicitários, cachorros, crianças, coveiros, padres, putas...menos camarão, porque dizem que tem merda na cabeça. Ela estava linda e não sabia que era a ela que aquele homem sempre amara e, enquanto falava, o sem-vergonha ficava observando o modo como ela piscava seus olhos e passava a língua nos lábios de quando em quando e os seios ainda lindos e as pernas e começou a ficar excitado.

- Sabe, eu te amei por muito tempo. Ainda amo, mas agora é diferente, um amor sem sonho, sem expectativa, convertido em conformismo de ter ou não ter; é como eu disse, desisti disso tudo. Merda.

Amanda permanecceu calada, olhando pra esse cara atraente com sua barba por fazer, ombros largos, rosto másculo, pensando que ele já estava meio chapado. Raul deu um bom gole na cerveja, colocou a garrafa no chão e caminhou até a fêmea; abaixou-se, segurou o rosto dela bem perto do seu, olhos nos olhos, a mulher derretida entre suas mãos e súbito desviou o olhar , abaixando a cabeça e balançando-a negativamente:

- Droga, onde fica o banheiro?

Entrou, encarou o espelho durante algum tempo e escapuliu pelos fundos da casa.
Alguém disse que havia inagurado um puteiro barato perto dali.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Desabafo incompleto

Isso é pra você que não caga, princesinha
Isso é pra você que não fede
Isso é pra você que "não pode"

Isso é pra falar de novela mexicana

Isso é pra você que pensa que pensa de modo coerente
- ou nisso prefere acreditar -
Isso é sobre a coisa certa na hora errada

Isso é pra falar de insanidade

Isso é pra você que molha uma camisa que não é a sua quando chora em um peito que não é o seu
Isso é pra você que morde e assopra
Isso é pra você que se contradiz dentro e fora de si mesma

Isso é pra você que não merece sofrer
Isso é mais um jeito de falar sem ser ouvido
Isso é sobre as boas rimas que não acontecem
Isso é pra falar pela última vez mais uma vez...


Isso é sobre todas as coisas boas que são jogadas no lixo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Besteirolas demasiado sérias

I- Ternura

Eu estava de ressaca e pensava em forma de poesia:

Mamãe já falou: Estou
triste.
Papai não fala nada.
Eu minto que a minha tristeza
no fundo é alegria,
mas alegria contida. Baseada
no fato real, já tão conhecido
que não vale à pena mencionar.

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A lua hoje
não me permite
falar sobre amor, até porque
acho que uma coisa nada tem a ver
com a outra

Só estou com vontade de imaginar
as breves noites em que seguro aquelas mãos
as noites em que aquele abraço e aquele
par de olhos mel
serão muito maiores do que qualquer palavra.

II - Dor de cabeça:

Essas porra desses jornal que ninguém lê! Fica tudo sujando as calçada!

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A velha olhou pra mim: Vixe, acabou minha cerveja!
E eu com isso, porra? Respondi.
Ela disse que gostou de mim.
Não tenho grana, velha.

O cara do lado tornou-se o novo bonitão do bar.

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Hoje não há muito espaço pra sorrisos. Aconteceu o que não importa. Não, não houve guerra ou derrota...não houve revolução. O sol nasceu e dormiu como sempre. Fez inclusive um dia bonito normal. As pessoas indo e vindo sob os olhares distraídos dos enormes prédios da Rio Branco, trabalhando mais uma vez.As calçadas dos tempos do império são as mesmas velhas agourentas e nostálgicas que existirão depois da nossa geração. Perpetuamente.
Os pequenininhos em casa, a boca no peito: Papai chega logo? Mamãe acha que papai não chega logo porque hoje é sexta-feira e aí já viu né?
E eu aqui, queimando cigarros pra queimar mais do que cigarros. Hoje, nada aconteceu.

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III - Auto-ironia

Deixei a palavra cair no chão, de modo que logo se lhe abriu um baita bucetão bem no meio da testa, mas poderia ter sido no joelho, caso ela caísse de joelhos. Acontece que a palavra era cabeça.

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Quando fui mijar, acho que não estava bêbado e sim distraído, de modo que puxei o saco pra fora e acabei mijando na calça, com os ovos pendurados no ar. Me senti um idiota.

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Cansado de auto-ironia, respiro fundo agora
e me calo.
Olho fundo no horizonte.
No fim da lnha não há luz,
nem mesmo
a exausta luz do pôr-do-sol.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Canção niilista


Já não faz diferença se eu parei de pensar
quando perdi a cabeça ela já pesava demais
e os meus ombros doíam, eu já queria parar

Já não faz diferença se eu perco o meu tempo
se não posso dormir, se não tenho palavras
ou se falo demais...se quiser pode entrar

Só precisa abrir a porta
Só precisa abrir a porta

Eu já disse isso:

só precisa abrir
a porta.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Oração da manhã de segunda-feira


Inevitavelmente desnorteado
caminho seguro em direção
à uma decisão adiada não sei até
quando
Absolutamente apaixonado
pela certeza de que
se dessa vez não der certo
outra vez vai dar errado

e caminho exposto ao sol metafórico
um passo após o outro
desacelerado
Confiando na promessa
do movimento de translação,
rotação...
que permanecerá
até o último
dos meus
passos

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Filosofia no puteiro: esboço de uma teoria do existir


Cuspi na cara da puta e continuei metendo. Ela me puxava mais pra dentro dela à medida que eu aumentava a força das estocadas sem acelerar o ritmo. Incrível como uma boa foda supera todas as angústias existencias do ser humano embora possa gerar problemas, se olharmos por outro lado. Penso em Sartre ou Schoppenhauer ou Heiddeger imaginando mil teorias pro vazio do existir. Não digo que seja errado, mas creio que as coisas não ultrapassem muito os limites do estritamente sexual. A história que o diga: Cleópatra fez história por seu apetite sexual, tendo ainda seduzido César e Marco Antônio para conseguir seus objetivos. Este, a convocou para que prestasse contas da ajuda que dera a um dos assassinos de César, mas ela chegou com tal pompa que encantou o Imperador, do qual ficou grávida de gêmeos; Miller produziu obras-primas da literatura, bem como Sade, baseadas em suas experiências eróticas; Hitler, que não comia ninguém, entrou em devaneio e deu a merda que deu; Freud teve seis filhos e acreditava que o desejo sexual, a libido, era a energia motivacional primária da vida humana; Helena pôs duas nações em guerra...e eu, por alguns momentos, esqueço que preciso arrumar um emprego pra pagar minhas despesas, ponho a piranha de quatro e começo a bater com vontade em todo o seu dorso e bunda e ela grita e o quarto todo gira e perco o equilíbrio. Levanto do chão com o pau ainda completamente teso, ela me pergunta a quanto tempo não faço sexo, eu me aproximo sem respondê-la e puxo sua cabeça para um boquete, cuspindo novamente talvez não em sua cara, mas na simplicidade com que complicamos as coisas.

domingo, 4 de julho de 2010

Outros lados da verdade sobre a lucidez

Pus o coldre vazio sobre a cômoda, perto da luminária acesa pra iluminar meus gestos e garantir que nada saísse errado. O revólver, pus abaixo do queixo, o dedo indicador pus no gatilho à espera de uma ordem do cérebro para o disparo derradeiro. Um ato extremo talvez fosse a melhor opção para alguém que passou toda uma vida atrás de atos calculados, precisos e sem a menor graça, por conseguinte. E nada mais extremo do que a morte. Minha atitude mais inusitada talvez tenha sido ir ao trabalho com um par de meias de cores diferentes, pois perdera uma noite de sono após ler um livro sobre ocultismo. Foi terrível minha perturbação com meu primeiro atraso na vida.

Jamais havia chegado tão perto de uma arma de fogo, não conhecia a sensação de poder que este objeto carrega consigo, nunca consegui compreender o motivo da história de amor entre os Homens e o tiro até então. Era como se eu fosse o assassino de outra pessoa que não eu mesmo. Que controle pode ser mais absoluto do que o controle sobre si? Quantas pessoas podem dizer que têm tamanho controle, tamanho poder? Muito poucas. Era como se nada pudesse ameaçar a integridade do meu corpo, era quase como sentir tesão e creio que não seja incomum ter sensações contraditórias quando se está diante do momento mais importante da sua vida. Por outro lado, um tremor percorreu toda a minha espinha ao toque do cano em minha mandíbula. Não escolhi trilha sonora, como já é clichê nesses casos, nem deixei uma carta de despedida que justificasse minha partida, bem como também não estava chapado, pelo contrário, estava completamente lúcido. Estava completamente lúcido como nunca estivera ao longo destes anos que esqueci de contar, mas pra quem sempre teve tudo sob controle, uma morte controlada seria mais um passo óbvio, uma expressão esperada de uma insatisfação que eu não sentia, mas que as outras pessoas sentiam em mim. De qualquer forma, eu não pensei em nada disso na hora.

Mantive os olhos fixos no espelho durante todo o procedimento e decidi que já era tempo de concluir meu objetivo, pois tenho mania de ficar divagando, explorando todos os meus pensamentos ao máximo, descobrindo o máximo de possibilidades de cada afirmação e, com isso, temia que pudesse começar a questionar o domínio que tinha da situação. Foi no exato momento em que decidi puxar o gatilho que conheci Mahatma Gandhi. Percebendo minha expressão transformada pela surpresa, ele aproximou-se com aquela cara engraçada só dele, de pai que sabe quando o filho quer fazer merda mas finge que não sabe e disse, com aqueles olhinhos apertados e o tom ameno e seguro que só alguém iluminado pode ter: O problema desse mundo está no vazio dos costumes, valores e ideologias; combate-os com os valores que teu coração conhece tão bem, escreve teu livro, que ele há de florescer em almas quais a tua e cair como uma bomba sobre as cabeças desses merdas, e eles ficarão expostos em suas fraquezas. Agente laranja, conhece? E sorriu. Após alguns poucos segundos de reflexão, consegui responder que sim, eu sabia o que era o agente laranja, usado no vietnã pra expor os inimgos desfolhando as árvores e que aquele filhodumaputa não era Gandhi, pois o verdadeiro guru indiano jamais falaria palavrão e não depreciaria um semelhante por mais nojento que fosse e avancei de arma em punho, pronto pra arrancar aquele sorriso babaca da cara do impostor, que para meu completo desarme transfigurou-se no Führer e, tomando o revólver das minhas mãos, pressionou-o contra a têmpora direita e desabou diante de mim como se jamais houvesse sido vivo. Não havia sangue nem expressão de dor em seu rosto, apenas o sorriso estúpido de Gandhi permanecera.

Talvez seja desnecessário dizer que fiquei extremamente transtornado com o ocorrido, mas realmente perdi a calma que tinha até então. Não sei se pelo tiro ou os gritos que provavelmente dei, surgiram dois rapazes que me contiveram e me fizeram tomar algumas pílulas que me acalmaram. Agora, nesse lugar onde estou, não sei dizer se puxei o gatilho, não sei onde estou e permaneço confuso. Já não sei dizer se sempre tive uma vida controlada, previsível.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Um dia besta


Parece besteira

mas às vezes é melhor um dia besta

de caminhar ao sol cabeça fresca

com a sobrinha, namorada, cachorro

ou quem quer que seja

de olhar no espelho e sentir a cara lavada

abrir a janela e deixar o peso

ir embora

desligar a TV, o rádio, o celular

e ouvir o que as pessoas têm a falar

e ficar satisfeito com tudo

que o normal tem pra te dar


Às vezes a noite cai

e você sequer deu bom dia...


Bunda mole

Bunda mole

Bunda mole

aproveita a calmaria

porque logo o mar te engole


Parece besteira

mas um dia besta às vezes vale

uma vida inteira.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Saudações


Por onde quer que se passe
em um dia
no qual o delírio insiste em tornar-se
resquício
- e isso ocorre geralmente
às segundas-feiras
as coisas ao redor se apresentam de maneira
diferente
o peso das coisas é diferente
Não dá pra dizer se flutuam ou afundam
e não faz a menor diferença
porque
tudo é antagônico e se completa
parece absurdo porque é absurdo
positivamente
absurdo
e dá vontade de chorar com uma dor
de quem não sabe o que sente


Saudações ao que não faz falta.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Insistir no erro é burrice ou nada demais

Eu li coisas demais
livros, horóscopos, jornais
e tirinhas de jornais...
Eu joguei jogos demais
pega-pega, porrinha, sinuca
e pulei alguns carnavais
e bebi demais
com pessoas demais
e nem sempre fui em frente
mas quase sempre
fiquei pra trás
e sempre falei pouco
enquanto pensava demais
e sempre tive o suficiente
e sempre quis sempre mais

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Guerra Civil


A guerra é longa,
os desejos são muitos.

Olhos fechados não dizem nada
mas sentem
deixando o coração queimar
por um motivo qualquer,
deixando-se tragar
pela rapidez infinita que dura um sonho,
desprevenindo os corpos,
desarmando as mãos

...

A batalha sempre está perdida
quando
se encontra um novo amor

domingo, 6 de junho de 2010

Incorrigível


Quando lágrimas involuntárias e pouco
conhecidas preenchem um vazio que
se pensava ilimitado,
fechar os olhos não é o suficiente.
Mesmo que vez por outra evaporem,
em breve se condensam e precipitam novamente.

Novidade é descobrir a cada instante,
a cada alinhamento astrológico e movimento
espaço-temporal
que todo esforço no sentido de conter-se
terminará em explosão.

INVARIAVELMENTE.

Criando novos universos e civilizações já extintas de antemão
Criando novas pestes e doenças auto-imunes
Criando automóveis desgovernados, recriando absurdos, sonhos e
apocalipses.

Criador e criatura do mito de fênix

Sorrindo de porre enquanto o anjo multiplicado
nos teus olhos
mastiga meu fígado e coração.

domingo, 30 de maio de 2010

Quero nada não


Sentado ao lado da janela, olhando pra lugar algum do dia lá fora, perdido na pequena parte do infinito que a vista alcança e que poderia ser qualquer coisa, mas agora é o lindo céu azul; ou entao apenas os olhos estão no céu e o resto todo dentro de si mesmo. Ao fundo, uma musiquinha depressiva. Parecia cena de fime francês, mas nada o atormentava neste momento, simplesmente estava parado, e suspeito que nada se passava por sua cabeça. Subitamente, lembrou-se de que precisava tomar um banho e uma bebida, fora isso, só conseguia pensar: Quero nada não.

sábado, 22 de maio de 2010

Música da copa do mundo 2010: Comemora Brasil


A copa do mundo ta aí e eu sei que meu bilau vai subir
é bola dentro, muita emoção, vou ficar doidão, que se foda a seleção!

Se quem ganhar for o Brasil
Vou pra VM com a turma do funil

Se quem ganhar for o Chile
Vou pra VM caçar um cu que brilhe

Se quem ganhar for a África do Sul
vou pra VM pra tentar comer um cu

Se quem ganhar for o Camarões
Vou pra VM balançando meus colhões

Se quem ganhar for a Argélia
vo pra VM e vou fazer miséria

Se quem ganhar for a Coréia do Norte
vou pra VM pra molhar o meu bigode

Se quem ganhar for a Coréia do Sul
Vou pra VM balançar o meu pirú

Se quem ganhar for a Alemanha
vou pra VM dar beijinho em piranha!

A copa do mundo ta ai e eu sei que meu bilau vai subir
é bola dentro muita emoção, vou ficar doidao que se foda a seleção


Se quem ganhar for a Eslováquia
vou pra VM para pegar xavasca

Se quem ganhar for a Costa do Marfim
Vou pra VM estufar um tamborim

Se quem ganhar for a Dinamarca
vou pra Vm fazer papel de babaca

Se quem ganhar for o USA
vou pra VM, depois não sei, não sei

Se quem ganhar for a Grécia
vou pra VM e que se foda, vo sem pressa

Se quem ganhar for a Holanda
vou pra VM cantando Carmen Miranda

Se quem ganhar for a Inglaterra
vou pra VM botar banana dentro dela

Se quem ganhar for a Austrália
vou pra VM, não vou pra Maracangalha

A copa do mundo ta aí e eu sei que meu bilau vai subir
é bola dentro muita emoção, vou ficar doidão que se foda a seleção

Se quem ganhar for a Eslovênia
vou pra VM estimular a violência

Se quem ganhar for Gana
vou pra VM com um bando de sacana

Se quem ganhar for Honduras
vou pra VM pra perder a compostura

Se quem ganhar for a Nigéria
vou pra VM pra comer puta banguela

Se quem ganhar for Portugal
vou pra VM com um bacalhau no pau

Se quem ganhar for a Suíça
vou pra VM tirar leite da linguiça

Se quem ganhar for a Itália
vou pra VM de bermuda e de sandália

Se quem ganhar for a Argentina
vo pra VM pra comer a cafetina!

A copa do mundo ta aí e eu sei que meu bilau vai subir
é bola dentro muita emoção, vou ficar doidão que se foda a seleção

Se quem ganhar for a Espanha
vou pra VM porque gosto de piranha

Se quem ganhar for a França
vou pra VM espetar com a minha lança

Se quem ganhar for o Paraguai
Vou pra VM pagar puta pro meu pai

Se quem ganhar for a Sérvia
vo pra VM porque lá não tem mocreia

Se quem ganhar for o Uruguai
vou pra VM incorporando o satanás

Se quem ganhar for o México
Vou pra VM, prostituta é o meu remédio

Se quem ganhar for a Nova Zelândia
vou pra VM, lá é minha disneylândia

Ô lá lá lá lá lá Ô
Ô lá lá lá lá lá Ô
Ô lá lá lá lá lá Ô
Ô lá lá lá lá lá Ô!

(Letra: Vitor Motta e Vitor Luiz)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Tanta coisa

Ela até tentou guardar dentro do peito
mas sua dor ganhou mais vida que ela própria
Ganhou corpo de carne, osso e sangue
Ganhou dentes que a mordiam mais à noite

mas não é sobre isso que eu quero falar

O todo disperso do mundo me distrai
e esqueço da minha própria multiplicidade
e cismo de pensar que sim, eu sou constante
Ganho dentes que me mordem mais à noite

mas não é sobre isso que eu quero falar
NÃO é
sobre isso
que eu quero falar...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Linda

Ninguém dirá
que teu rosto há de envelhecer
que teus seios deliciosos hão de perder a firmeza
que teu sorriso
e os teus olhos
não mais serão sedutores como agora.
Quem diria,
que tua pele branca há de tornar-se cinza?
da cor desbotada
de um cansaço de agonia.

sábado, 1 de maio de 2010

09-10-08

O anti-heroi e
sua anti-musa. Ele,
num antegozo sofre. Ela,
no pós-parto do amor
há de sofrer seus próprios truques.
O amor
será a síntese deste
absurdo entrelinear demais.
Nascerá do sal das lágrimas e
das faíscas dos sorrisos.

Eu?

Eu só quero ver o rosto
dela brilhar
mesmo que esteja longe demais,
como uma estrela
que se contempla feliz e
angustiado
ao mesmo tempo.

Que importa quem tem mais medo ou certeza?
Importante é o ponto de convergência
A porta atrás da qual o mundo se fecha
e os dois, embasbacados, fagulham e dormem em concha.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Conceição #2 - Uma canção de amor


Amanhã novamente
vou querer te dizer alguma coisa.
Algumas palavras que terminarão
com o "eu te amo"
que você já conhece tão bem
mas eu nunca disse.

Vou começar exatamente assim:
"Não sei se foi bom ou ruim
te conhecer"
e mesmo depois disso
ainda vai ficar algo a ser dito.
Ainda vai ficar alguma coisa por viver.
Porque você vive apesar de mim
porque já sou grande o bastante pra saber o que você não quer

mas

isso está longe de ser
um atestado de desistência.
E nós nunca vamos entender
o porquê da minha força
mas acho que a resposta está no absurdo da esperança.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Outra reflexão sobre outro fim


Hoje consigo entender
o quanto te incomodei
mas
o que acontece comigo,
eu não aceito perder
sei
que por todo esse tempo
eu só pensava em mim
ao só pensar em você

Tá tudo bem
Tá tudo bem
Acho que tá tudo bem.

Hoje consigo enxergar
só não consigo medir
Não
Meu egoísmo é maior
do que tudo que já vi
Sim
E de situação alguma
aprendo alguma lição
Porque pra língua que falo
não, não há tradução
porque a língua que falo
é a da auto-implosão

Eu

A gente faz tanta coisa
e quer saber tanta coisa
Hein?!
Nenhuma coisa é tanto
tão melhor é esquecer
Hã?!
Tanta pergunta só vai
deixando a gente tan tan
só tentando aceitar
Aceitar.

Tá tudo bem...
Tá tudo bem?
Tá tudo bem.

Acho que tá tudo bem.

sábado, 17 de abril de 2010

Corujando

...então ela mostrou seus pequenos
seios.
dançando e cuspindo a loba
na nossa
mesa.
Deu algumas voltas sobre o próprio eixo
para que a(de)precissiássemos
a exaustão de um ser
com resquícios de alma.
Confesso
que desejei que ela me chupasse
só que eu
era
o menos elegante ??? dentre
os 3
Eu só queria anoitecer ali mesmo
arriar as pálpebras
Fim de expediente.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Voltimeia

Voltimeia um pelo encravado
no rego
me impede de andar direito
e sentar direito
e correr direito
e finalmente,
de viver direito

Voltimeia cometo
um novo ou velho erro
que,
diferentemente do cabelo
inflamado no rego,
não me impede o sorriso satisfeito

e o cabelo-dor que me enche o rego
pode perfeitamente
ser uma pessoa qualquer
metafórica ou em alto-relevo
(carne e osso e dentes
e desejos)
pois muitas pessoas incomodam,
cada uma do seu jeito

e no fundo todo mundo tem
um pentelho encravado no cu
que fere direto no peito.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Brinde


A cada trago
A cada hora perdida
A cada alegria desfeita
A cada mergulho mais profundo
e
sobretudo às guinadas da vida

Eu hei de brindar

A cada rei deposto
A cada ridículo exposto

Eu hei de tomar mais um gole

Engolindo um sapo por vez
Matando um leão
a cada surto de consciência.
A cada hesitação

Hei de pedir outra dose

A cada conquista esperar uma derrota
e de cada derrota vislumbrar
outra conquista

Não escolho a música
mas não dançarei conforme ela
se não me convier
mas nunca deixarei de brindar
-seja ao ridículo ou não-

terça-feira, 6 de abril de 2010

Homens Primatas


Antes de começar o que quero dizer, creio que seja relevante informar que foram misturados dados antigos, de alguns anos atrás, com fatos recentes, na intenção de constatar que, no fim das contas, é sempre mais do mesmo, como diz o verso de Renato Russo; mas isso todo mundo já deve saber. Espero apenas ser claro e coerente.

Acordei na tarde deste sábado com a visão ainda meio turva e a boca rachando de seca devido aos festejos da noite passada; a luz que entrava pela janela escorregava sobre o meu peito e revelava jornais espalhados pela cama. Jornais de datas diferentes e conteúdos semelhantes, como geralmente são os jornais. Houve, no entanto, uma espantosa coincidência entre o que eu pensava ao acordar e a notícia que saltou sobre mim: Cartunista Glauco, 53, é assassinado em Osasco.

A condição humana e, principalmente, sua propensão à violência, sempre me chamaram a atenção. Toda a nossa história foi construída tendo por base a agressão física. A própria origem da língua portuguesa passa pelas guerras púnicas, por exemplo; grandes descobertas, como a pólvora ou a energia nuclear, foram rapidamente convertidas em meios de destruição em massa; a tortura é prática impossível de datar; acidentes corriqueiros e brigas insignificantes atraem a atenção de transeuntes todos os dias; a maior parte das notícias que ocupam telejornais e veículos de informação em geral, vomitam diversos tipos de crimes e, provavelmente, isto está nos levando a estágios avançados de irracionalidade e insensibilidade. Na verdade, imagino a possibilidade de um retrocesso, como no eterno retorno, de Nietzsche; um ponto de contato com uma selvageria ancestral, um conflito existencial que não se pode ignorar, pois, aparentemente, é nossa sina ad infitum, e temos motivos não só diacrônicos para acreditar nisso, uma vez que acompanhamos a cada ano, sucessivos aumentos nos índices de violência do país. Essa situação se reflete na populção de maneira geral, que vive sob tensão por tempo quase integral, criando uma geração de paranoicos, cada vez mais desconfiados e assustados; comportamento que, de certa forma, se justifica quando nos deparamos com dados como os levantados pela Unesco em parceria com o Instituto Ayrton Senna, segundo os quais as principais vítimas da violência no país são jovens entre 15 e 24 anos, de modo que a proporção de adolescentes que morrem assassinados é quase sete vezes maior do que a proporção de vítimas de homicídio. Entretanto, o problema não se resume a isso, uma vez que o número de assaltos, sequestros, balas perdidas, também apresentam índices alarmantes, e o pior, muitas especulações sobre os motivos, culpados e soluções, sem que se chegue à uma solução eficaz.

É fácil perceber que a crise social, com o aumento do desemprego e da pobreza, tem grande parcela de culpa nos alarmantes números expostos, mas não é a única responsável, havendo um fenômeno relacionado a uma crise existencial de valores, como afirma o ex-presidente Fernado Henrique no livro "O mundo em português" (ed. Paz e Terra, p. 245 e 246), ou seja, toda essa situação de tensão gera uma crise de "irracionalidade selvagem" nas pessoas, como mortes em discussões e atitudes violentas de desprezo à vida do próximo. De modo que vemos notícias como a do cartunista Glauco, das meninas Eloá e Isabela Nardoni, isso pra citar apenas os mais recentes, pois temos o assassinato de Daniela Perez, mais antigo, e muitos outros crimes parecidos que não ganham cobertura da grande mídia. Reconfortante saber que algumas pessoas ainda conseguem indignar-se, compadecer-se ou sentir alguma coisa, por menor que seja, e essas pessoas devem observar que, diante desse quadro, ficamos sem entender porque a solução para a violência nos parece tão distante, se políticos, policiais e especialistas conhecem o problema e convergem em suas soluções; citando ainda o ex-presidente respondendo que solução proporia: "Não há outra a não ser o Estado mais bem organizado, polícia com sentido cívico e mais profissionalizada, maior proteção social, mais educação e mais emprego". Simples não?

A noite começa a cair e ainda não saí do quarto. Estou sujo e enjoado e certo de que pouco ou nada verei mudar, e ao afirmar isto, não pretendo estimular a passividade, ostentar o conformismo. Não. Precisamos exercer nossa cidadania e cobrar cobrar cobrar... mas realmente não sei por onde começar e me sinto mesmo muito mal.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Má descoberta


Ela corria nua por gramados verdes e floridos.
Cabelos ao vento. Os lavradores
e os vaqueiros e os animais
a desejavam. Ela sorria e
cumprimentava o sol e a grama.

Era um sonho

Acordou em seu quartinho já cansado
ouvindo os bêbados gritando lá embaixo
e os ladrões roubando
e os motores da cidade funcionando.
Não tinha cerveja nem dinheiro.
Ninguém a desejava.
O espelho estava partido. Seu coração.
Também não havia lindas flores
nem animais fofinhos.
E o sol era abraçado pelo ar pesado da metrópole.

Ela poderia dar aulas de como
perder na vida. Filhadaputa muito azarada.
Perdera toda a crença em santos
e em milagres.
E pensa todos os dias, cabeça entre as mãos:
- diabo safado,
amassa o pão que eu como.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Vesgo


Quando já é tarde demais
você acorda e já perdeu tempo demais.
E você olha os outros olhos
e rostos e corpos...
e fica cada vez mais confuso, então
você espera e espera e espera
mas você sempre acaba apanhando.

Você nunca sabe o que pensar ou
o que esperar
porque espera e pensa sempre errado.
E NINGUÉM pensa em você antes
de pensar em si mesmo.
E tudo que você queria
era esquentar seu pão
pra se satisfazer de alguma forma
mas acaba sendo empurrado
contra um bloco de merda.

E só então,
respirando a beleza no mau cheiro da verdade,
mastigando o bolo fecal,
é que as coisas se tornam claras.
E tudo que você pensava saber
tem um horrível gosto de alho.
E então, meu amigo
você sempre olhou pro lado errado.

Memória

De todos os passos que pisei
consequentemente deixando-os pra trás
pouco do que presenciei
ficou pra mim guardado como experiência
De modo que
contrariando a linearidade do tempo
ciclicamente retorno a erros cometidos tempos atrás
embora cada velho erro repetido
implique uma nova reação
Eis a recusa que me imponho
mas da qual não consigo fugir
e cuja sombra nem sempre me impede o riso.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um dia em um diário achado não importa onde

Paciente diário,

Escrevo todos os dias nestas folhas desde os 16, quando tinha pretensões de tornar-me um grande escritor e me exercitava sobre suas páginas. Hoje, me aproximo dos 40 e acabo de me divorciar da minha primeira e única esposa, a quem só amei enquanto a comia escondido dos pais, mas a amei muito mesmo. Pois bem, atormentado por um vasto histórico de brochadas não somente com ela, por fim me senti obrigado a escolher a solidão como companheira ideal; sem cobranças ou expectativas, passava meus diasde modo agradável: lendo muito, bebendo muito, fumando e me masturbando sempre que possível. Esta pacata vida acabou, entretanto, há cerca de 5 dias atrás, quando, relendo um livro de poemas de Manuel Bandeira, flagrei-me em furiosa ereção ao ler o poema sobre o porquinho-da-índia; desde então não deixo de pensar no terno animalzinho e reluto em realizar o que julgo ser uma perversão absurda embora esteja certo de que o porquinho-da-índia será a minha melhor namorada...cristo! E dizer que estraguei anos da minha vida, que eu quis morrer, que tive meu maior amor, por uma mulher que não me agradava, que não fazia meu gênero!

Todo amor

Todo amor é por excelência
desconhecido
porém, inato -vírus incubado-
Instintivo ao mesmo tempo
que sincero.
Idiota por si só. Burro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Melhor não mexer

Não sei se devo tentar esquecer
ou simplesmente não me importar
Não sei se devo tentar me defender
ou simplesmente me esquivar
Não sei se devo tentar entender
ou deixar tudo desmoronar

ou me despir de todo esse medo
toda essa vergonha
e atacar

Não sei se devo tentar me alegrar
ou simplesmente fingir
Não sei se devo tentar resgatar...
ou simplesmente fugir
Não sei se devo talvez comemorar
tentando me iludir

E se esconder o que sinto
corro o risco de explodir
num gozo corrosivo e lento
morrendo aos poucos
desde o começo

segunda-feira, 22 de março de 2010

Tédio ou o que quer que seja

Estou dentro de um mausoléu
Trancado.
Munido apenas de um pequeno tubo de
oxigênio. Ainda é dia de uma segunda
ensolarada.
O olhar do morto, fixo no teto,
me incomoda a ponto de querer matá-lo
- o que seria estupidez -
Me pergunto o que foi do meu domingo
e não sou capaz
de lembrar de nenhum dia antes de hoje
que por sinal, não sei mais com precisão.
Só existe a segunda-feira e o sol que
deita no chão pelo vitral do mausoléu
e o morto que sequer conheço e não me
olha de jeito nenhum.

sábado, 20 de março de 2010

Danada

Saboreava seu cigarro quando viu uma menina, uma mulher, uma vagabunda, uma rainha, uma deusa...não importa. Dezoito anos no máximo, mas ele a observou com seus olhos de trinta e poucos anos. Deslumbramento infantil, deu um trago forte no cigarro, esperou a fumaça aquecer os pulmões e, por entre a fumaça que dançava diante dos seus olhos, a criatura se afastava. Decidiu que a seguiria apenas para observar por mais tempo aquela rara beleza que, pode-se dizer sem medo de exagero, faria Narciso cuspir n'água.

De fato, só observaria mesmo, pois não tinha segurança nem cara de pau para abordar tão graciosa pequena com frases pré-fabricadas ( boas ou ruins), nem com elogios espontâneos e, muito menos era um desses tarados. Não. Era simplesmente um admirador das coisas espontaneamente belas e estudava cada detalhe, principalmente de rostos, geralmente sem nenhum interesse sexual, a princípio, nem finaceiro ou científico ou qualquer que seja o tipo de interesse naqueles rostos de mulheres, crianças e homens; tendo para si que era aparte mais temporária, a mais difícil de disfarçar, quando é justamente o que a maioria das pessoas tenta fazer, apesar de sempre acabarem se traindo, o que finalmente, nos leva ao problema: as pessoas que se mostram do jeito que são.

Essas sim, são tão belas que o fazem sentir profundo desgosto, pois, apesar de tudo, em breve também se tornarão insuportáveis, porque a intimidade expõe a pessoa que até pouco era perfeita. Eis o principal motivo pelo qual o casamento, progressivamente, está se tornando uma instituição falida e pelo qual gostava de observar esses rostos como se fossem fotografias ou filmes e não conseguia se interessar por ninguém, porque tinha pavor de conhecê-la, de conhecer qualquer um. Pavor por ter certeza de que tão logo abrissem a boca, ou talvez pouco depois, se mostrariam tão feios quanto uma queimadura em alto grau. [ Ela ]. De qualquer forma, não se conteve e partiu no encalço daquele aglomerado de carne bem distribuída, abandonando sua cerveja sobre o azul do balcão do bar.

enquanto seguia a moça, pensou na razão de tal comportamento e quase julgou-se irracional, mas (in)felizmente lembrou que todas as mulheres que teve foram absurdamente feias, ou tornaram-se feias, ou pareciam-lhe feias e ainda por cima o traíam, com certeza. Lixo traindo lixo. Nomes que já não lembrava mais, dessas beldades da madrugada cujo amor perece com tanta facilidade, que foram seus grandes amores ( alguns até prometeram vida longa ) e que somados não contam mais de um ano e meio. Os românticos definitivamente eram tão tolos quanto tuberculosos. Como parece fácil se apaixonar e mais fácil ainda, se desapontar.

Ela andava com uma sensualidade tão despreocupada, balançando o cabelo, exibindo aquele pescocinho de quando em quando que, por vezes, parecia-lhe puro despudor. Mas não, ele esbarrava desastradamente nos pedestres, suando em bicas, tentando acompanhar o deslizar do anjo. Viu aquele anjo transformar-se novamente na Vênus quando, num gesto deliciosamente casual, descolou a calcinha da bunda. Filha-da-puta. Aquilo foi a gota d'água, pois não se conformou com a mulher horrenda que o esperava, por saber que era mais um desses casos sem grandes expectativas, pelo menos de sua parte ( como era geralmente ). Enfim, não se conteve e emparelhou com a Danada; o rosto tão vermelho e suado que por um momento a espantou mas, recobrado o fôlego, olhou-a por uns segundos, era extremamente simpática, e tirou do bolso uma camêra fotográfica pedindo para que ela batesse uma foto sua. A foto que decoraria sua lápide no centro da coroa da flor mais vagabunda.

Voltou pra casa e começou a escrever seu obituário.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Qualidades do sujeito são adjetivos, mas isto deveria ser outra coisa

Sou/estou/serei/estarei
permanecerei
Nervoso tenso trincado convulsivo
Agitado
Compulsivo esquizofrênico esquizo esquizo esquizo
esquizofrênico
Aperreado descontrolado apreensivo
Embasbacado com o movimento constante mesmo das coisas inertes
e eu sou/estou/serei/estarei
permanecerei
parado.

Obstáculos

Os gatos passeiam sem leis
e as pessoas pedem confiança mas
não têm confiança em si mesmas e
tentam usar o plural
mas suas vidas são singulares
- começo, meio e fim -
Eu nunca quis saber disso.
Enterrado vivo em pesadelos infantis.
A senilidade galopa
voa
voa ............pffffff. Existem muros.
voa

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dia de azar por anos a fio

Mauro até deu um sorriso e esboçou algumas palavras que pudessem confortar a si mesmo, mas não conseguiu sair do nível do pensamento, até porque, sempre achou que falar sozinho é coisa de maluco ou de quem quer aparecer. Olhou então por entre os tijolos gastos da parede do bar e pensou: Daqui a pouco o Flamengo joga; se fico aqui, tomo outro porre e corro o risco de me fuder.
Pediu uma cerveja e pensou que tem gente muito mais fudida que ele e que deveria mesmo tomar um porre e chorou quando viu no jornal a notícia de que um homem de seus 30 anos fora morto dentro do ônibus quando voltava da casa de sua noiva, com um tiro na têmpora esquerda a queima roupa, disparado pelo passageiro ao lado simplesmente porque estava chovendo e ele não quis abrir a janela como aquele pedira talvez não tão educadamente. Morreu na hora por causa duma merda dessa.

Existe um abismo enorme entre o que se pode fazer e o que é feito, e o que se pode fazer é incomparavelmente maior do que o que é feito e esta pequena teoria formulada por um sábio contemporâneo, cujo nome prefiro ocultar por modéstia, se aplica a indivíduos, grupos de indivíduos, bairros, quarteirões, municípios, cidades, Estados, Nações, Associações de moradores, Prefeituras e todos os governos e digo mais: não é novidade pra ninguém, mas creio que o mérito deste notável rapaz esteja em querer ampliar o alcance deste pensamento, de modo que, partindo do indivíduo, o mundo inteiro seja modificado pra melhor; o que na verdade é tolice, pois a história mostra que todos os que almejaram tal empreitada ou tomaram no cu, ou viram seus sonhos deturpados por aproveitadores/enganadores, ou simplesmente deram com os burros n'água e isso passa por cristo, Guevara, Raulzito, John Lennon, Joel Silveira, Gandhi, Vitor Motta, Teresa de Calcutá, Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Robin Hood e muitos outros nomes célebres que tiveram seus sonhos frustrados. Mas é a vida, porra. Fazer o que? Uns sonham e outros destroem sonhos. Não é pior do que parece ser. Havia, inclusive, uma antiga canção que se perdeu hoje em dia por causa da cultura de massa acéfala, que dizia algo parecido com isso de não desistir de realizar um sonho apesar dos pesares, mas acontece que também não lembro como era tal canção.

Era Marcos seu nome, não Mauro; mas não faz diferença. Ele começou a lembrar de pessoas com quem jamais conviveu, como o louco que gritava na Padre Manso, perto da estação de Madureira e fazia flexões no meio do trânsito, sob a chuva, ou o velho que teve um AVC ao seu lado num bar do centro, e sempre acabava pensando que nunca se está fodido o bastante. Pelo menos, nada que não possa piorar.

O jogo desta quarta-feira chuvosa era pela Taça Rio, segundo turno do mais que papado cariocão que, apesar disso, é sempre mais um título na bagagem a ser festejado nos bares. E nesse dia, o Mauro estava no bar desde a hora do almoço, quando pediu um carré bem passado com couve arroz e feijão e uma cana pra ajudar a digestão. O jogo era às 21:50 e ele temia não estar sóbrio o bastante pra ver ( o que de fato aconteceu ) ou ter outra crise de fígado ou seja lá o que for que o preocupava . O mengão ganhou o jogo contra o Madureira em um Maraca nada cheio e uma atuação que parecia refletir a tristeza dos espaços vazios e da chuva que caía. Eu mesmo, no bar, também me sentia meio estranho tal qual o Mauro. Aos 14 do primeiro, Fernando deixa sua marca pra só aos 43 do segundo, Love ampliar o placar pra 2 x 0. Não se tem muito mais o que falar sobre este jogo, pois confesso que niguem prestou muita atenção e só lembro bem de quando percebemos a ausência do Marcos, que sumiu pelos 3 dias que se seguiram. Dizem que andou internado por forte infecção gastrointestinal, mas parece que fugiu do hospital porque ficou puto de ver as condições em que eram mantidos os pacientes internados, em lençóis no chão do corredor, em cima de bancadas de alumínio, todos cagados e mijados por falta de cuidados. Uma merda. O Estado realmente não funciona pro povo.

Foi encontrado alguns dias depois dentro de um vagão na central do brasil com a mesma camisa do Flamengo que vestia no dia do jogo, todo cagado e sabendo que nada mudaria tão cedo pra melhor. Tinha 24 anos e não deixou mulher ou filhos. Eu mesmo não o conhecia e não sei se toda essa história é real ou não, pois é fruto de uma breve conversa que tivemos neste dia. Aliás, se uma história existe, deve ser real, mesmo sendo ficção. Real por exisitir no mundo, mas isso não vem ao caso.
Mauro até deu um sorriso e esboçou algumas palavras que pudessem confortar a si mesmo, mas não conseguiu sair do nível do pensamento, até porque sempre achou que falar sozinho é coisa de maluco ou de quem quer chamar a atenção. Olhou então por entre os tijolos gastos da parede do bar e pensou: Daqui a pouco o Flamengo joga; se fico aqui, tomo outro porre e corro o risco de me fuder.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Se chamarem, diga que eu saí.


Entra e vem correndo para mim, meu princípio já chegou ao fim, o que me resta agora é o seu amor. Traga a sua bola de cristal e aquele incenso do Nepal que você comprou no camelo e me empresta o seu colar que um dia eu fui buscar na tumba de um sábio faraó.

Veja quanto livro na estante! "Don Quixote: O Cavaleiro Andante", luta a vida inteira contra o rei. Joga as cartas, lê a minha sorte. Tanto faz a vida como a morte, o pior de tudo eu já passei...

Do passado eu me esqueci, no presente, me perdi, se chamarem diga que eu saí
( Raul seixas e Paulo Coelho )


Este post é sobre escolhas, sobre sorte e azar e a relação que tudo isso tem com os atos realizados pelo indivíduo. Podemos esquecer do passado ruim, sem no entanto jamais esquecermos porque este tempo ficou pra trás. Devemos nos entregar ao presente, perder o juízo quando nos der vontade, sem esquecer que temos compromisso com nós mesmos e com as pessoas que amamos, no mínimo. O futuro será fruto de todos os passos anteriores e o futuro é o tempo todo agoraagoraagoraagoraagoraagora....nunca cessa de chegar e blá blá blá.

Ad infinitum ou promessa

Se promessa é dívida
nunca mais vou prometer.
Não sou bom pagador.
mas ainda sou capaz de escrever
um "troço" qualquer sobre o amor

Porque o amor eu sei como é
porque sei quantas tantas vezes começou
sem jamais acabar
mas
caindo em pequenas armadilhas.
Se perdendo,
sem saber como voltar
e sabendo que outras tantas vezes
um outro amor começará.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vão

Ando pensando muito em questões essenciais e talvez por isso mesmo já não sei bem o que é essencial
às vezes dá cãibra entre as sinapses nervosas
quando acontece um vento que leva embora uma coisa que nunca foi sólida uma nuvem poderíamos dizer
A conta c/ o acaso nunca está paga
O infortúnio é cíclico como as guerras e as chuvas imprevisíveis possivelmente devido ao tal do acaso que nem sempre é sorte e não só a morte é certa
o que Nós queremos dizer e esse Nós sou eu em minhas singulares ficções é que desde o começo pensávamos na conclusão de alguma coisa iniciada sem objetivo definido que pode até mesmo ser a vida em resumo isso aqui ó
é na intenção de ter palavras pra tudo que se mergulha no eco da frustração sempre inquietando como um par de tênis usados não ser uma jura de amor eterno não sei porque
Deixemos de explicar
A certeza é um mito irresistível e você também sabe que se tenho certeza sobre o que digo nesta frase o meu nome deve ser contradição a chama da tolice na soberba de ser humano nunca se apaga
Animal.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Pessoas

Pessoas falam sobre pessoas
e tentam acreditar que suas vidas
são mais do que uma bolinha de cocô
na querida Guanabara

pessoas ofendem pessoas
e parecem procurar motivos pra
que não se lembrem de si mesmas,
como se suas vidas não fossem um milagre
e esperam milagres como se eles caíssem do céu
e procriam na esperança de um futuro melhor.

Saudações

Por onde quer que se passe
em um dia
no qual o delírio insiste em tornar-se
resquício
- e isso ocorre geralmente
às segundas - feiras
as coisas ao redor se apresentam de maneira
diferente
o peso das coisas é diferente
não dá pra dizer se flutuam ou afundam
e não faza menor diferença
porque tudo é antagônico e se completa
parece absurdo porque é absurdo
positivamente
absurdo

Saudações ao que não faz falta.