quarta-feira, 22 de junho de 2011

O caso Eliana

Em Julho de 2007, houve um caso que ganhou grande projeção na mídia nacional por conta de suas características incomuns, ao menos aqui no Brasil. A estudante Laís, do curso de Comunicação de uma renomada faculdade particular do Rio de Janeiro, foi sequestrada e assassinada por um colega de classe chamado Pedro Motta, que a filmou durante os 3 meses de cativeiro, obrigando-a a responder perguntas que eram os motivos desencadeadores da decisão do sequestro. O caso tornou-se um livro interessante pela riqueza dos detalhes transcritos que o material filmado forneceu e certamente servirá para o estudo das psicopatologias, sua origem e desenvolvimento.


Tive acesso aos vídeos e posso afirmar que quase nada foi dito durante todas as 1.157 horas de filmagem. O diálogo foi maior no começo, no primeiro vídeo principalmente, onde o sequestrador tenta justificar-se com sua vítima e, provavelmente esperando piedade da lei, mostrando porque ele estava certo e ela errada, depois o que segue são cenas de tortura. Três meses de tortura registrados.

“Eu sou louca por um cara lá da faculdade, mas ele não dá a mínima pra mim.”
“Qual é o nome dele?”
“Por favor, me solta, Pedrinho”
“Pedrinho?! O que o medo não faz....eu era o punheteiro nojento, lembra que você me chamou assim? Vocês piranhas acham que podem fazer isso com as pessoas que respeitam vocês mas ficam se oferecendo a qualquer preço pros caras que tratam vocês como merda. FALA O NOME DELE SUA PUTA!”
“TÁ BOM... tá ...eu falo...o nome dele é Rodrigo”
“Isso. Esse é um cara legal, respeito o Rodrigo. Trata bem todo mundo, até uma idiota que nem você que não respeita o amor dele pela sua noiva só porque ninguém te respeita. Ninguém te respeita porque você é uma vadia, Laís, porra.”

Nesse momento Pedro solta uma sequência de socos na cabeça de Laís, que implora para que ele pare, mas nada o deteria naquele momento. Ele tinha raiva da bela garota que Laís poderia ser, não fosse o fato de saber que jamais a teria, ainda mais agora, que decidira torturá-la.

“Agora conta pra todo mundo as coisas que você fazia pro Rodrigo te comer”.
“Por favor, Pedro, me deixa em paz” – Dizia entre soluços.
“Você vai ficar em paz, mas antes vai contar pra todo mundo o que eu mandar. Tua família vai saber que você é uma garota estúpida e arrogante e puta. Agora fala do dia da chopada”

Ela hesitava em contar, mas a cada hesitação, era uma chuva de socos na cabeça.

“Naquela chopada da faculdade que ele foi com a noiva dele, eu fiquei dando mole a noite toda, dançando, rebolava até o chão olhando pra ele mas se ele viu duas vezes foi muito. Então, no final, como eu tava bêbada, entrei no banheiro junto com ele e tirei minha calcinha e me debrucei na pia, virada de costas pra ele, mas ele balançou a cabeça negativamente e saiu. Nunca me senti pior”.
“Foi nessa hora que eu entrei e te vi lá, chorando sentada no vaso e perguntei o que tinha acontecido e você disse sai daqui seu punheteiro nojento. Não tem nem um mês isso, certo?”
“Sim...mas eu tava nervosa...”
“Tudo bem. Relaxa que isso vai acabar”.

Então ele sumiu por cerca de 15 minutos. Durante esse tempo, Laís lutou para libertar-se, mas os nós que a prendiam na cadeira eram muito firmes. Pedro retornou em silêncio com uma faca de cozinha na mão e com um gesto largo fez um enorme corte no braço da garota, que sangrou muito, e saiu do cômodo, voltando horas mais tarde, ainda sem pronunciar palavra alguma, com agulha e linha e costurou o braço que cortara, tendo como acompanhamento os grunhidos da cadela.

E todos os dias pela manhã, após alimentá-la, ele fazia as mesmas perguntas sem dizer mais nada e dava uma boa surra matinal na garota, concentrando-se na cabeça e em espetá-la com pregos por todo o corpo – e ele fez isso todos os dias, até o fim – de modo que em pouco tempo a estudante já estava toda cagada e mijada, com uma magreza cadavérica, tossindo muito, sem conseguir falar muita coisa além de um débil “por favor”. Dava pra ver as moscas que por vezes pousavam sobre seu corpo.

No fim dos três meses, Pedro chegou sorridente ao local, saudou Laís com um bom dia, tirou a mochila das costas e não usou a violência nem o questionário de costume. Em vez disso, contou como todos estavam preocupados com seu desaparecimento, como toda a faculdade estava mobilizada, distribuindo panfletos desde a primeira semana após o sequestro. Falava em um tom descontraído que a família fez apelos na Televisão para que sua querida filha aparecesse, junto com todo aquele drama, dizendo que era uma menina feliz, que sonhava ter sua própria agência de publicidade e blá blá blá...e mostravam fotos de quando era criança. Nunca mostravam fotos dela bêbada no banheiro sem calcinha oferecendo cu pra um homem. Por fim, anunciou:

“Mas fique tranquila, esse sofrimento acaba hoje. Você FINALMENTE TERÁ DESCANSO!” – disse animado, como quem anuncia um prêmio.

Abriu então a mochila tirou, sabonete, esponja e toalha. Deu um longo banho morno em Laís, ensaboando com carinho a paciência todo o seu corpo. A estudante estava aliviada, chegou mesmo a chorar sob a delicadeza do rapaz, que dizia: “Nossa, você está horrível. Não tem noção de como você está acabada” . Secou seu corpo, deitou-a em um colchonete que trouxera há poucos dias e fez amor com a cheirosa moribunda. Virou-a de bruços e, enquanto metia, depois de muitos dias voltou a ouvir a voz da garota, que gritava enquanto, um por um, seus dedos eram quebrados. Gozou.

Como se Laís não estivesse lá, gritando de dor, Pedro arrancou friamente cada um de seus dez dedos, distribuindo metade em seu canal vaginal e a outra metade introduzindo no reto da vítima. Ao terminar, simplesmente arrumou sua mochila e partiu, deixando-a nua, com as mãos e os pés amarrados às costas. Não retornou mais ao local. A estudante agonizou até a morte, sendo encontrada oito dias depois pela polícia local após uma denúncia anônima.

Ainda lembro o choque da opinião pública pelas ruas e bares da cidade na manhã seguinte à prisão do assassino:

- Viu aquele tarado que prenderam ontem? O filho-da-puta arrancou os dez dedos da garota e enfiou no cu e na buceta dela ainda viva.

Alguns tablóides sensacionalistas, com seu senso de humor duvidoso, batizaram o crime como “O caso Eliana”, por causa da música dos dedinhos.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Conversa pra boi dormir

- Tem gente que parece que nasceu mesmo pra atrasar a vida dos outros, Né? Uns troços que não sabem fazer mais nada além de tomar conta da vida alheia, andar devagar na sua frente quando você tá com pressa e ocupar dois lugares no banco do ônibus, que nem aquela gorda que morava perto da tua mãe, lembra?


- É. Quero nem falar nessas porras.

- Sabe, andei pensando sobre uma coisa que constatei depois de ler a geração Beat e outros autores mais contemporâneos: parece que é pré-requisito ser viado pra ser literatura de moderna, parece que é a única forma de subversão em um momento que parece que não temos nada pelo que lutar, parece um monte de adolescente entediado saindo do armário. Os últimos escritores que acredito terem sido homens de verdade, grosseiros e preconceituosos –e por isso mais verdadeiros, pois não escondem nada- são o velho Bukowski, Henry Miller e Fausto Wolff. Eles falavam abertamente, por meio alter-egos, personagens e narradores, sobre qualquer assunto que lhes ocorresse, incluindo seus preconceitos,quebrando verdadeiramente o status quo. Não estou dizendo que Ginsberg, Burroughs, Cassady, Gide, Garcia LLorca, Capote e companhia são ruins, pelo contrário, seus textos são geniais e todos de fato contribuíram pra uma literatura mais honesta e acessível mas todos curtiam levar uma linguiçada na bunda e exageravam ao levantar a bandeira. Mas me parece que, na literatura, essa coisa de ostentar purpurina foi mais ruidosa, até porque a literatura hoje em dia já não tem o impacto e o alcance de outrora e, além do mais, o estímulo ao homossexualismo vem de todas as partes e crescendo desde a década de 80, pelo menos aqui no Brasil, onde músicos como Cazuza, influenciado pelos ecritores Beatnicks desvairados, escancarou o rabo diante das pessoas, com seu indiscutível talento, o que certamente falta às mais novas gerações de artistas e escritores. Criou-se a idéia de que é “cult” não ter preconceitos e, de fato não deveríamos ter, mas o fato é que temos, caralho!

- Verdade...

- Sei que a homossexualidade é antiga pra caramba e que existem escritores mais antigos que gostavam de se agarrar em uma piroca veiuda; eu não estou criticando a orientação sexual de ninguém, embora seja bem verdade que não é a minha praia. Vou pegar mais uma garrafa desse vinho. Sabia que já até pensei em jogar nos times? Hahaha! Sério, pelo menos fingir que sou viado, sei lá, colocar umas fotos com um cachorrinho em um carrinho de bebê no álbum “Meu amor” do facebook. Pelo menos acho que seria engraçado, você não acha?

- Nem vou comentar.

De repente o mais eloqüente na enorme sala era o silêncio; quase dava pra ouvir um pensamento, caso alguém pensasse alguma coisa, pois nesse momento o vinho já deixara o velho escritor e seu interlocutor um tanto sonolentos. A região dos lagos do Rio de Janeiro era sombria e deserta no inverno e a casa ficava isolada em uma grande fazenda com algumas cabeças de gado, sem vizinhos. Eram cerca de uma e quinze da madrugada e o vento convidava todos a se protegerem do frio. Do lado de fora da casa, alheios à conversa, os bois dormiam desde o anoitecer.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um presente e um futuro

Pra te dar um presente

Eu quis comprar alguns pares de sapato
Eu quis comprar um jeans que aqueceria seu corpo
Eu quis comprar algumas garrafas do seu vinho preferido
Eu quis comprar rosas vermelhas que se abririam,
- Crescendo em beleza como há de crescer nosso amor –
E morreriam cansadas e murchas
Como um dia estaremos, nunca o nosso amor.

Eu sonho assim.

Tentei escrever um poema
Um romance
Uma canção
...

Eu quis te dar um longo beijo
E puxar o seu cabelo com firmeza e cuidado
Arrepiar teu corpo e esquentar teu sangue
E nisso,
Arrepiar meu corpo e esquentar meu sangue

Eu quis fazer amor com você.

Depois eu te quis imortal
mas percebi o absurdo de o querer
e quis ter força e coragem pra te dar proteção
e quis ter sabedoria pra te oferecer confiança
E hoje eu só quero te dar alegria amanhã

E depois
E depois
E depois

Eu quero aprender contigo e te ensinar alguma lição.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mulher preta faz macumba

Adolfo frequentemente dizia, orgulhoso de si, ser um sujeito sem qualquer tipo de preconceito, que todos somos iguais e outros bordões utilizados por pessoas que querem mostrar alguma coisa o tempo todo. Dizem que todos temos algum preconceito, mesmo que não nos orgulhemos disso e o escondamos, mas ele afirma que isso é besteira e que um povo tão misturado como o brasileiro não pode ter preconceitos. Adolfo é desses, tanto que, quando não estava por perto algumas pessoas, na brincadeira, quando queriam se referir a ele chamavam-no de Adolf.

Ocorre que, como na maioria das vezes, quando existe muito esforço em querer mostrar certa “atitude”, o bunda rachada era hipócrita. Não que suas intenções não fossem sinceras, mas ele o era sem perceber. Suas afirmações, inclusive, eram todas muito coerentes, tendo por base a história em defesa de suas idéias. Dizia em conversa com um amigo:

- O problema é que o preto, sempre foi associado com coisas negativas, mesmo pela natureza, basta lembrar que quando vai haver tempestade, o céu fica negro. Quando anoitece é maior a incidência de crimes, pois a noite oferece as sombras aos gatunos e malfeitores. Algumas religiões também reforçam essa idéia ao associar as forças negativas e espíritos malignos ao reino da escuridão. Na Idade Média, houve uma epidemia Peste Bubônica, que dizimou grande parte da população européia, e que por ser desconhecida e ter causado tamanha tragédia, foi batizada de Peste Negra. As justificativas para os racistas são muitas, mas, ainda assim, injustificáveis, e não param somente em tudo isso que falei, porque ainda temos o tráfico negreiro, onde um preto era trocado por uma garrafa de cachaça e um pouco de fumo, era escravizado e humilhado por seu dono. Temos o Nazismo e a Ku Klux Klan. Temos Machado de Assis, clássico de nossa literatura, negro, que teve, ao falecer, uma “honraria” concedida como reconhecimento dos seus contemporâneos pela sua genialidade, sendo enterrado como BRANCO e dispomos em nossa língua de expressões do tipo: “a coisa tá preta”, “ele é negro mas tem alma de branco”, “preto quando não caga na entrada, caga na saída”. Fico puto da vida, precisamos reverter isso.

O amigo, concordando plenamente, completa:
- Falando nisso, te chamei hoje aqui pra gente tomar essa cerveja só pra te dizer que comi uma pretinha ontem, que puta-que-pariu, é maravilhosa. Ela é linda, inteligente e tem um corpo sensacional...

E Adolfo:

- Sei como é, mas cuidado, porque mulher preta faz macumba.