sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Os reis da selva: uma reflexão sobre a estupidez.

O limite que separa a coragem da estupidez é uma linha muito tênue, bem fininha mesmo. De modo geral, quando a atitude é bem sucedida, denominamo-la como coragem, julgando como idiotice quando dá errado. Não pretendo com isso fazer uma exaltação da covardia ou da imobilidade, trata-se de um breve desenvolvimento baseado em observações feitas por esses olhos já cansados ao longo destes X anos - sim, eu tenho essas frescuras de idade e tô cagando para o que vão pensar. Quando se chega a uma certa altura da vida algumas coisas não fazem mais sentido, como se preocupar demais com os outros. Dizem que o velho volta a ser criança, então que se foda - Pois bem, a verdade é que algumas atitudes imotivadas realmente podem ser bastante estúpidas: uma coisa é você reagir a um assalto, outra coisa é andar por lugares inóspitos com pessoas sem qualificação. Explico:

Certa vez, estive em uma expedição pela floresta amazônica com um grupo de aventureiros que se conheceram pela internet, dentre eles o célebre Vitor (El Ladrón) Motta, famoso ladrão de artes urbano, que jamais fora pego, mesmo em suas tentativas frustradas, como aquela em que tentou interceptar os painéis de Portinari da sede da ONU, em 2010, quando vieram para o Brasil. A ideia me pareceu absurda, megalomaníaca, afnal, os painéis são imensos, mas parece que quando se é muito bom em alguma coisa o ser humano tende a sentir-se intocável, e foi o que aconteceu com este gênio que alguns jornalistas-governistas-sensacionalistas tentaram culpar pela queima do acervo de Oiticica, mas El Ladrón é um amante das artes, não um marginal, mas preciso voltar ao que contava:  O curioso, ou talvez absurdo, é que nenhum de nós sabia nada de línguas ou costumes indígenas; compartilhávamos a certeza de que viviam pelados e arranhavam no português, o que me obriga a corrigir o que disse antes sobre estarmos em uma expedição. Na verdade, foi uma idiotice comum a algumas pessoas, pois nenhum de nós jamais havia saído dos limites da cidade grande e de repente estávamos lá, confiando nos filmes do Rambo pra sobreviver no meio da selva.

Desde o começo tivemos todos os entreveros que uma pessoa normal cogitaria antes de se meter em tal empreitada, como arranjar comida, dormir sem ser atacado por insetos e coisas do tipo. Como se não tivéssemos problemas o suficiente, começamos a ficar de porre constantemente, pois, além da idiotice, compartilhávamos o gosto pelo álcool e quase todos levamos garrafas de bebida na mochila, o que não foi a melhor das ideias, pois assim perdemos nosso primeiro homem, que bateu tiro de meta numa onça que dormia traquilamente e por ela foi devorado enquanto nós corríamos pra longe. Porrada então tinha sempre, mas nada fatal, só mesmo uns golpes trocados por conta do nervosismo de descobrirmos que fizemos merda e não dava mais pra retroceder. Eu ficava na minha, só pensando que enquanto estávamos lá morrendo um por um, a Vila Mimosa estava cheia de garotas andando só de calcinha pelas ruas, os homens tomando suas cervejas...e eu nem podia tocar uma punheta, com medo de algum macaco arrancar meu pau do nada, afinal, macaco quer banana.

Eu e El Ladrón fomos os únicos sobreviventes de um grupo de cerca de 17 pessoas e mantivemos contato por alguns meses, durante os quais travávamos longos debates e relembrávamos nossa malograda aventura, ou a malograda aventura dos que morreram e, de certa forma, do Vitor também, pois, em um de nossos porres, ele ignorou o aviso de um índio sobre o perigo dos candirus, dizendo que nosso bom selvagem estava querendo nos sacanear pra gente passar calor naquela floresta filha da puta e mergulhou pelado no rio. O peixinho então penetrou uretra a dentro e tivemos que amputar o pênis do gênio do roubo, que até implantou uma prótese, mas reclamava que não era a mesma coisa, o que realmente imagino ser verdade e, por isso mesmo, compreendendo sua depressão, não tive surpresa ao saber que se matara após tirar a vida de uma garota de programa.

3 comentários:

  1. Sensacional historia, aventura e perdas, a vida selvagem.
    Soube que Vitor matou a puta porque no meio da foda a sua roliça prótese caiu, e num ato de pura maldade e sacanagem a puta o penetrou com o tal objeto.

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  2. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKk

    Houve muitas versões sobre o motivo de sua morte, a imprensa é muito sensacionalista, e como figura pública, ele foi alvo de mtas capas de jornal. Não sei em qual versão confiar, sinceramente.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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