sábado, 19 de março de 2011

Alegria (Laetitia) - lágrimas em 1976

Durante a batalha perdi muitas vidas, e muitas delas de nada valiam, mas só pude chegar a tal conclusão após ter perdido a mais valiosa de todas elas.

Tudo transcorreu de forma rápida, de modo que, quando dei por mim estava correndo atrás de um fantasma, tudo por que tanto me esforcei se esquivava pra longe de mim e quem morria, na verdade,era eu, após ter dado passos mais largos do que me eram possíveis, após tropeçar em minhas próprias pernas, caminhando sem avaliar o terreno por onde me aventurava, sem medir as consequências de onde pisava, pois em cada espaço em que pisamos, deixamos uma marca e eu pisei fundo demais em terreno macio e só nisso, afundei duas vidas. Segui o conselho de Cartola: disfarcei e chorei por ter fracassado em mais uma batalha, mas, insistente que sou, não desisti.

Há os que defendem que a vida é uma sucessão de batalhas. Pois bem, confirmo. Toda a vida é uma batalha por sobreviver e a morte, creio eu, é a mais fácil de se driblar, uma vez que morremos a cada instante, sempre renovamo-nos após a morte de cada um de nossos eus e deslumbramo-nos diante do novo ser que surge. A única batalha, no entanto, que jamas um de nós venceu, é a batalha contra o tempo que, embora não seja linear, faz de nós o que quer. Quem afirma que o passado não tem volta, engana-se profundamente, pois ele volta sim, e volta mais forte neste presente do que no passado de outrora. Volta e volta bruto, tendo por alvos principais de destruição a esperança e o futuro, nos encontrando pelas pegadas que pisamos e deixamos  pra trás, que nunca se apagam, mas acontece que a palavra "cautela" só vem  na frente de "desculpa" no dicionário mesmo, e "desculpa", por sua vez, só vem depois de "perda". Digam o que quiserem os estudiosos da língua brasileira, mas defendo o dicionário como de maior importância.

Foi assim que estou morrendo. Morrendo de uma morte completa. Morrendo de presente, passado e futuro. O passado que pensei ter enterrado também no passado, me apunhalou no presente, afetando, por sua vez, o futuro. A batalha sempre está perdida quando se encontra o amor, pois, quando o encontramos, perdemos a vida de solteiros e se o deixamos morrer, perdemos novamente, desta vez a vida de casal, sem a chance de voltar à mesma vida de antes e fazemos o mesmo com a outra pessoa, então a tudo se torna uma morte em grupo, de certa forma. MORTEMORTEMORTEMORTEMORTEMORTEMORTE. Quisera eu ser homem e amar a morte. Contenhamos nossas lágrimas. Não falo de vocês, falo de "mins".

Preciso descontinuar meu raciocínio. Não posso seguir adiante e não vou enganar a mais ninguém. Só seguirei quando souber que posso. Cartola fica com a palavra.

Bate outra vez

Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

Não tenho fé nem certeza, apenas esperança e vontade.

3 comentários:

  1. ...
    Estive aqui e fui embora com aquelas lágrimas já bem conhecidas.

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  2. É amigo, como escreveu Cobain,, nossa natureza às vezes parece sentir falta do conforto em estar triste.
    É um modo de explicar atos tão errados que achamos por algum momentos executá-los de forma tão correta.

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  3. OBS: Já fui esse, e fico alerta porque sei que posso voltar a ser repentinamente.

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