quinta-feira, 16 de junho de 2011

Conversa pra boi dormir

- Tem gente que parece que nasceu mesmo pra atrasar a vida dos outros, Né? Uns troços que não sabem fazer mais nada além de tomar conta da vida alheia, andar devagar na sua frente quando você tá com pressa e ocupar dois lugares no banco do ônibus, que nem aquela gorda que morava perto da tua mãe, lembra?


- É. Quero nem falar nessas porras.

- Sabe, andei pensando sobre uma coisa que constatei depois de ler a geração Beat e outros autores mais contemporâneos: parece que é pré-requisito ser viado pra ser literatura de moderna, parece que é a única forma de subversão em um momento que parece que não temos nada pelo que lutar, parece um monte de adolescente entediado saindo do armário. Os últimos escritores que acredito terem sido homens de verdade, grosseiros e preconceituosos –e por isso mais verdadeiros, pois não escondem nada- são o velho Bukowski, Henry Miller e Fausto Wolff. Eles falavam abertamente, por meio alter-egos, personagens e narradores, sobre qualquer assunto que lhes ocorresse, incluindo seus preconceitos,quebrando verdadeiramente o status quo. Não estou dizendo que Ginsberg, Burroughs, Cassady, Gide, Garcia LLorca, Capote e companhia são ruins, pelo contrário, seus textos são geniais e todos de fato contribuíram pra uma literatura mais honesta e acessível mas todos curtiam levar uma linguiçada na bunda e exageravam ao levantar a bandeira. Mas me parece que, na literatura, essa coisa de ostentar purpurina foi mais ruidosa, até porque a literatura hoje em dia já não tem o impacto e o alcance de outrora e, além do mais, o estímulo ao homossexualismo vem de todas as partes e crescendo desde a década de 80, pelo menos aqui no Brasil, onde músicos como Cazuza, influenciado pelos ecritores Beatnicks desvairados, escancarou o rabo diante das pessoas, com seu indiscutível talento, o que certamente falta às mais novas gerações de artistas e escritores. Criou-se a idéia de que é “cult” não ter preconceitos e, de fato não deveríamos ter, mas o fato é que temos, caralho!

- Verdade...

- Sei que a homossexualidade é antiga pra caramba e que existem escritores mais antigos que gostavam de se agarrar em uma piroca veiuda; eu não estou criticando a orientação sexual de ninguém, embora seja bem verdade que não é a minha praia. Vou pegar mais uma garrafa desse vinho. Sabia que já até pensei em jogar nos times? Hahaha! Sério, pelo menos fingir que sou viado, sei lá, colocar umas fotos com um cachorrinho em um carrinho de bebê no álbum “Meu amor” do facebook. Pelo menos acho que seria engraçado, você não acha?

- Nem vou comentar.

De repente o mais eloqüente na enorme sala era o silêncio; quase dava pra ouvir um pensamento, caso alguém pensasse alguma coisa, pois nesse momento o vinho já deixara o velho escritor e seu interlocutor um tanto sonolentos. A região dos lagos do Rio de Janeiro era sombria e deserta no inverno e a casa ficava isolada em uma grande fazenda com algumas cabeças de gado, sem vizinhos. Eram cerca de uma e quinze da madrugada e o vento convidava todos a se protegerem do frio. Do lado de fora da casa, alheios à conversa, os bois dormiam desde o anoitecer.

Um comentário:

  1. Muito maneiro maluco!
    Posso falar que já tentei hein, mas não dá, gosto muito de coelhos de pelúcia rs

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