Adolfo frequentemente dizia, orgulhoso de si, ser um sujeito sem qualquer tipo de preconceito, que todos somos iguais e outros bordões utilizados por pessoas que querem mostrar alguma coisa o tempo todo. Dizem que todos temos algum preconceito, mesmo que não nos orgulhemos disso e o escondamos, mas ele afirma que isso é besteira e que um povo tão misturado como o brasileiro não pode ter preconceitos. Adolfo é desses, tanto que, quando não estava por perto algumas pessoas, na brincadeira, quando queriam se referir a ele chamavam-no de Adolf.
Ocorre que, como na maioria das vezes, quando existe muito esforço em querer mostrar certa “atitude”, o bunda rachada era hipócrita. Não que suas intenções não fossem sinceras, mas ele o era sem perceber. Suas afirmações, inclusive, eram todas muito coerentes, tendo por base a história em defesa de suas idéias. Dizia em conversa com um amigo:
- O problema é que o preto, sempre foi associado com coisas negativas, mesmo pela natureza, basta lembrar que quando vai haver tempestade, o céu fica negro. Quando anoitece é maior a incidência de crimes, pois a noite oferece as sombras aos gatunos e malfeitores. Algumas religiões também reforçam essa idéia ao associar as forças negativas e espíritos malignos ao reino da escuridão. Na Idade Média, houve uma epidemia Peste Bubônica, que dizimou grande parte da população européia, e que por ser desconhecida e ter causado tamanha tragédia, foi batizada de Peste Negra. As justificativas para os racistas são muitas, mas, ainda assim, injustificáveis, e não param somente em tudo isso que falei, porque ainda temos o tráfico negreiro, onde um preto era trocado por uma garrafa de cachaça e um pouco de fumo, era escravizado e humilhado por seu dono. Temos o Nazismo e a Ku Klux Klan. Temos Machado de Assis, clássico de nossa literatura, negro, que teve, ao falecer, uma “honraria” concedida como reconhecimento dos seus contemporâneos pela sua genialidade, sendo enterrado como BRANCO e dispomos em nossa língua de expressões do tipo: “a coisa tá preta”, “ele é negro mas tem alma de branco”, “preto quando não caga na entrada, caga na saída”. Fico puto da vida, precisamos reverter isso.
O amigo, concordando plenamente, completa:
- Falando nisso, te chamei hoje aqui pra gente tomar essa cerveja só pra te dizer que comi uma pretinha ontem, que puta-que-pariu, é maravilhosa. Ela é linda, inteligente e tem um corpo sensacional...
E Adolfo:
- Sei como é, mas cuidado, porque mulher preta faz macumba.
HAHAHAHAHAHAHAH..
ResponderExcluirNo dia que muita coisa mudou no meu trabalho, serei despedida por rir alto.
Bom! Sei lá, me remeteu muito L. Fernando Verissimo e suas crônicas engraçadas e reflexivas. Aliás, achei a forma como conduziu muito singular. Parece um papo de boteco, conversa jogada fora como num bar do baixo Meier.. muito bom.. um texto artístico...
ResponderExcluirObrigado, é muito gratificante saber que, nos tempos atuais, um periódico do porte do "The Pavuna Times", preocupa-se em lançar seus olhos sobre pequenos escritores e, como se não bastasse, ainda tece comentários lisonjeiros e perspicazes sobre seus textos.
ResponderExcluirhuahauahuahauauahauaaahauahuahauahuahua
Mas sério, valeu mesmo!
Ladrão de Tempo.
Sensacional hahahahahha!
ResponderExcluirMuito bom e derretido no fim.