sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mulher preta faz macumba

Adolfo frequentemente dizia, orgulhoso de si, ser um sujeito sem qualquer tipo de preconceito, que todos somos iguais e outros bordões utilizados por pessoas que querem mostrar alguma coisa o tempo todo. Dizem que todos temos algum preconceito, mesmo que não nos orgulhemos disso e o escondamos, mas ele afirma que isso é besteira e que um povo tão misturado como o brasileiro não pode ter preconceitos. Adolfo é desses, tanto que, quando não estava por perto algumas pessoas, na brincadeira, quando queriam se referir a ele chamavam-no de Adolf.

Ocorre que, como na maioria das vezes, quando existe muito esforço em querer mostrar certa “atitude”, o bunda rachada era hipócrita. Não que suas intenções não fossem sinceras, mas ele o era sem perceber. Suas afirmações, inclusive, eram todas muito coerentes, tendo por base a história em defesa de suas idéias. Dizia em conversa com um amigo:

- O problema é que o preto, sempre foi associado com coisas negativas, mesmo pela natureza, basta lembrar que quando vai haver tempestade, o céu fica negro. Quando anoitece é maior a incidência de crimes, pois a noite oferece as sombras aos gatunos e malfeitores. Algumas religiões também reforçam essa idéia ao associar as forças negativas e espíritos malignos ao reino da escuridão. Na Idade Média, houve uma epidemia Peste Bubônica, que dizimou grande parte da população européia, e que por ser desconhecida e ter causado tamanha tragédia, foi batizada de Peste Negra. As justificativas para os racistas são muitas, mas, ainda assim, injustificáveis, e não param somente em tudo isso que falei, porque ainda temos o tráfico negreiro, onde um preto era trocado por uma garrafa de cachaça e um pouco de fumo, era escravizado e humilhado por seu dono. Temos o Nazismo e a Ku Klux Klan. Temos Machado de Assis, clássico de nossa literatura, negro, que teve, ao falecer, uma “honraria” concedida como reconhecimento dos seus contemporâneos pela sua genialidade, sendo enterrado como BRANCO e dispomos em nossa língua de expressões do tipo: “a coisa tá preta”, “ele é negro mas tem alma de branco”, “preto quando não caga na entrada, caga na saída”. Fico puto da vida, precisamos reverter isso.

O amigo, concordando plenamente, completa:
- Falando nisso, te chamei hoje aqui pra gente tomar essa cerveja só pra te dizer que comi uma pretinha ontem, que puta-que-pariu, é maravilhosa. Ela é linda, inteligente e tem um corpo sensacional...

E Adolfo:

- Sei como é, mas cuidado, porque mulher preta faz macumba.




4 comentários:

  1. HAHAHAHAHAHAHAH..
    No dia que muita coisa mudou no meu trabalho, serei despedida por rir alto.

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  2. Bom! Sei lá, me remeteu muito L. Fernando Verissimo e suas crônicas engraçadas e reflexivas. Aliás, achei a forma como conduziu muito singular. Parece um papo de boteco, conversa jogada fora como num bar do baixo Meier.. muito bom.. um texto artístico...

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  3. Obrigado, é muito gratificante saber que, nos tempos atuais, um periódico do porte do "The Pavuna Times", preocupa-se em lançar seus olhos sobre pequenos escritores e, como se não bastasse, ainda tece comentários lisonjeiros e perspicazes sobre seus textos.

    huahauahuahauauahauaaahauahuahauahuahua
    Mas sério, valeu mesmo!

    Ladrão de Tempo.

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  4. Sensacional hahahahahha!
    Muito bom e derretido no fim.

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